Reajuste em tarifa para o entorno revolta usuários

A partir deste domingo (25) as tarifas do transporte público entre o DF e as cidades do Entorno terão reajuste de 8,56%

“Por mais que seja algo que a gente já devia ter se acostumado, é impossível não se revoltar. A gente pega ônibus porque precisa, é uma necessidade”, afirma a Auxiliar de Serviços Gerais, Valdemira de Moura Rocha, moradora Céu Azul GO. Na última sexta-feira (23), foi publicado no Diário Oficial da União (DOU) a decisão de que as tarifas do transporte público entre o Distrito Federal e as cidades do Entorno sofreriam reajuste de 8,56%, variando de R$ 4,45 a R$ 22,25, a partir deste domingo (25/2). 

O texto passou pela aprovação Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), e essa recomposição tarifária é válida apenas para as linhas operadas por meio de autorização especial, e não se aplica àquelas operadas pela Taguatur. “Eu só tenho uma folga na semana, e gasto, mensalmente, 280 reais só com passagem. Com esse preço, o mínimo que esperava era uma priorização maior dos ônibus, pois a realidade deles não condiz com o preço que pagamos. Vamos em pé, em um transporte lotado e desconfortável. É muito difícil”, comenta Valdemira, de 52 anos.

Valdemira de Moura – Foto: Mayra Dias/Jornal de Brasília

Risco de desemprego e reajustes frequentes 

Assim como a Auxiliar, muitos moradores do Goiás dependem dessas linhas para garantir seu sustento, e eles não estão felizes com a notícia do reajuste. “Estou muito preocupada com meu futuro, pois a gente nunca sabe quando vai precisar trocar de trabalho. Nas cidades do entorno nós sofremos com a falta de oportunidades, e os empregadores irão pensar duas vezes antes de contratar alguém daqui. Já foram 3 reajustes no intervalo de 1 ano”, comenta a doméstica Maria dos Remédios de Castro, de 30 anos. Ela mora na Cidade Ocidental e trabalha na Asa Norte, de segunda à sexta. 

A política tarifária do transporte interestadual semiurbano de passageiros prevê a atualização anual dos valores das passagens, o que acontece, geralmente, na segunda metade de fevereiro. Porém, em 2021 e 2022, período em que estava sob delegação do Governo do Distrito Federal (GDF), não houveram as devidas recomposições tarifárias. Segundo a ANTT, tal fato acarretou em dificuldades operacionais para as empresas que prestam esse serviço. Em março de 2023, houve um reajuste de 12%. Cinco meses depois, em agosto, os valores subiram 15%.

Foto: Mayra Dias/Jornal de Brasília

“É injusto e não resolve o problema estrutural do transporte coletivo na região” afirmou o governador do Goiás, Ronaldo Caiado. Segundo ele, a decisão da ANTT vai na contramão de todo o esforço do Governo de Goiás para reduzir o preço cobrado do usuário. “De Brasília a Planaltina, a tarifa vai custar quase R$ 23 no percurso de ida e volta. Se o usuário for 25 dias a Brasília, gastará mais de R$ 560 por mês. Como fica para o cidadão?”, indagou Caiado. “Grande parte dos goianos trabalha em Brasília, já pagando tarifas pesadas por um serviço sem qualidade”, finalizou o gestor. 

Com a mudança, os preços das passagens passarão a incorporar o reajuste anual da legislação. A atualização inclui o custo do combustível, óleo lubrificante e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que subiu 4,621% entre janeiro e dezembro do último ano. 

Foto: Mayra Dias/Jornal de Brasília

A consultora de vendas Isabela de Oliveira Tavares, de 25 anos, moradora de Formosa GO, compartilha que não vê impacto positivo nessa mudança. “Venho para Brasília semanalmente e gasto, em média, R$ 60,00 para ir e voltar. Já houveram reajustes e nenhuma melhora. Os transportes estão cada vez mais precários e não refletem a suposta melhoria proposta para justificar o reajuste”, argumenta a jovem. Ao contrário de outros tipos de transporte, o semiurbano não recebe ajuda financeira do governo, dependendo apenas do dinheiro que as pessoas pagam pelas passagens. Esse dinheiro é usado para cobrir os gastos com manutenção, compra de veículos, salários dos funcionários, etc. 


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Veja os novos valores 

Águas Lindas de Goiás/ Brasília: R$ 10,85
Águas Lindas de Goiás/ Brazlândia: R$ 4,45
Céu Azul/ Brasília: R$ 6,95
Cidade Ocidental/ Brasília: R$ 8,45
Cidade Ocidental/ Taguatinga: R$ 9,75
Cidade Ocidental/ Gama: R$ 5,75
Formosa/ Planaltina DF: R$ 7,80
Lago Azul (Novo Gama)/ Brasília: R$ 11,70
Luziânia/ Brasília: R$ 10,35
Luziânia/ Gama: R$ 7,75
Luziânia/ Taguatinga: R$ 11,65
Monte Alto/ Brasília: R$ 9,85
Monte Alto/ Brazlândia: R$ 2,85
Monte Alto/ Taguatinga: R$ 9,10
Novo Gama/ Brasília: R$ 9,80
Parque Industrial Mingone/ Brasília: R$ 8,75
Parque Industrial Mingone/ Gama: R$ 5,80
Parque Industrial Mingone/ Taguatinga: R$ 10,05
Planaltina (GO)/ Brasília: R$ 11,05
Planaltina (GO)/ Sobradinho: R$ 7,25
Planaltina (GO)/ Planaltina DF: R$ 5,85
Santo Antônio do Descoberto/ Brasília: R$ 10,20
Santo Antônio do Descoberto/ Taguatinga: R$ 8,10
Valparaíso de Goiás/ Brasília: R$ 7,60
Valparaíso de Goiás/ Gama: R$ 4,90
Valparaíso de Goiás/ Taguatinga: R$ 8,85

Águas Lindas de Goiás/ Brasília: R$ 21,90

Cidade Ocidental/ Brasília: R$ 17,05


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Planaltina (GO)/ Brasília: R$ 22,25

Santo Antônio do Descoberto/ Brasília: R$ 20,55

Histórico

O governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), desistiu de gerir o transporte semiurbano após o STF (Supremo Tribunal Federal) suspender o reajuste das passagens no início de dezembro de 2022. O aumento, decretado no dia 2 de dezembro do ano passado a este, elevou a passagem do ônibus do Entorno em até 26%, com data para entrar em vigor no dia 4 de dezembro.

Foto: Mayra Dias/Jornal de Brasília

Na época, o secretário Valter Casimiro do Governo Ibaneis afirmou: “O GDF não tem interesse de recorrer da decisão do STF e vai devolver a gestão (das linhas do Entorno) para a ANTT para que ela faça a articulação com todos os entes (DF, GO e municípios) porque o importante é a gente preservar o usuário”.


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O Diário do Transporte noticiou, em 08 de julho de 2021, o início a transferência das outorgas do serviço de transporte rodoviário interestadual semiurbano coletivo de passageiros operado no território da RIDE (Região Integrada de Desenvolvimento do DF e Entorno) para o Distrito Federal.

Foto: Mayra Dias/Jornal de Brasília

Com a definição, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) passou a gerir 396 linhas de ônibus que fazem a ligação de Brasília aos municípios do entorno localizados no estado de Goiás.


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