Medo toma conta da Asa Sul

Luís Nova
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Moradores da Asa Sul reclamam da insegurança próximo ao Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP). Em 15 de março, o Governo do Distrito Federal retirou 19 barracas da 903 Sul e acolheu 24 pessoas em situação de rua que acampavam no muro de uma escola. Mesmo com o acolhimento, moradores ainda reclamam da insegurança. Afinal, as barracas foram retiradas, mas a rota até a unidade de acolhimento permanece. “O governo tira e depois de uns dias voltam todos. Eles saíram da 903 e agora estão na praça da 703”, desabafa um comerciante que preferiu não se identificar por medo.

Na última terça-feira, o Jornal de Brasília divulgou que o quantitativo da população em situação de rua no DF, segundo o Instituto de Pesquisa Estatística do Distrito Federal, era de 2.938 pessoas dormindo nas ruas. Entretanto, o relatório preliminar de pessoas em situação de rua de 2023 do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania aponta um número muito maior, de 7.429. Ainda segundo o documento, entre 2016 e 2023 aumentou 464,89%, saiu de 1.598 e chegou a 7.429 pessoas vulneráveis nas ruas do DF.

O medo é algo comum entre os moradores da região, a reportagem do Jornal de Brasília percorreu algumas quadras das 900 e 700 da Asa Sul. Durante a caminhada, é possível notar o consumo de drogas e também a venda de entorpecentes. Na entrequadra da 703/704 Sul, esta reportagem flagrou um homem, de camiseta vermelha e mochila laranja, cobrando uma dívida de droga de um senhor cadeirante em situação de rua. “Agora você me deve 5 reais de maconha e 5 de pedra”, afirmou o traficante que se vestia igual uma pessoa em situação de rua.

O empresário Jorge Oliveira, de 54 anos, tem um comércio na quadra há 16 anos. Segundo o empreendedor, desde a inauguração do Centro POP na região, há 12 anos, aumentou a quantidade de pessoas em situação de rua na 903. “Teve uma vez que abordaram uma aluna e bateram nela com um pedaço de madeira para tomar a bolsa. Tem muitos que estão drogados e não sabem o que estão fazendo, todo dia acontece algo aqui, já vi até briga de faca”, relata Jorge.

Ainda segundo o comerciante, o governo errou ao colocar o Centro Pop ao lado de escolas e de residências. “Tem escola, tem faculdade, tem muita criança aqui. O Centro POP poderia ficar em outra área. Os comerciantes e os moradores já pediram ao Governo para mudar de local o Centro Pop”, destaca.

A técnica de contabilidade Alcione Aguiar, de 52 anos, mora na região desde 2010. Ela relata que o medo é frequente e que sempre há crime na região. “Furtaram o cano de cobre do fogão em plena luz do dia, às 15h. Já assaltaram minha irmã, já roubaram estepe do carro. Uma série de roubos acontece aqui na quadra. Todo dia eles passam aqui e pedem algo. Uma vez, passou um homem gritando com uma faca na mão”, conta Alcione.

Para passear com o cachorro na quadra próxima da casa, a técnica de contabilidade costuma ter cuidado redobrado. “Eles sempre estão na praça. Dá medo passear com o cachorro. A gente anda sozinho, não sei o que pode acontecer. Quando saio pelo jardim, deixo o celular em casa, tiro meu relógio. Tudo para evitar ser assaltada. Se vejo já desvio, ninguém sabe o que as pessoas podem fazer”, desabafa.

Os moradores da 703 Sul com medo da criminalidade contrataram uma empresa de segurança para monitorar a quadra. Em todo perímetro residencial, há placas e câmeras filmando 24h por dia toda a movimentação.

A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) informou que não possui recorte sobre os crimes envolvendo moradores em situação de rua. “Os relatórios de criminalidade da pasta se baseiam na natureza criminal das ocorrências”.

Já a Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDES) informou que não faz remoção compulsória das pessoas em situação de rua. De acordo com a pasta, o papel da Secretaria é viabilizar o acesso das pessoas em situação de rua à rede de proteção social.

A Sedes informou que possui equipes de abordagem social que ofertam, quando solicitado, serviços de atendimentos em dois Centros Pops e também em 12 Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas) espalhados pelo DF. “Quando a pessoa solicita o acolhimento institucional, o profissional da unidade socioassistencial verifica onde há vaga e ele é encaminhado para um abrigo, que são locais que oferecem alojamento temporário para pessoas ou famílias quando em desabrigo ou situação de rua. A Sedes possui seis unidades de execução direta para a oferta do serviço, além das Organizações da Sociedade Civil (OSC) parceiras”, conclui a pasta

Em 21 de agosto de 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu sobre a proibição de retirada forçada de pessoas em situação de rua. Esta votação aconteceu após uma ação problemática na Cracolândia de São Paulo. Como nada é obrigatório e forçado, a tendência é a permanência do problema. Pois nesta situação de vulnerabilidade ele só pode ser alcançado pelo Estado quando o próprio morador em situação de rua deseja atendimento da Sedes ou quando está envolvido em algum crime, pois ele ficará à disposição da Justiça até o julgamento.

O Centro POP foi inaugurado em 6 de julho de 2012 durante o governo de Agnelo Queiroz (PT), que na ocasião afirmou que até o fim do ano não teria mais pessoas dormindo nas ruas do DF.

*nome fictício para preservar o comerciante.

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