Mais de 1.400 pessoas estão a espera de um transplante no DF

No Distrito Federal, mais de 1.400 pessoas esperam para a realização do transplante, e dessas, as maiores filas são para transplantes de rim e córnea. A demora de anos condena algumas pessoas a parar completamente a sua vida, em muitos casos sem poder trabalhar.

Uma dessas pessoas é Simone Ribeiro, cantora de 53 anos que parou de pisar nos palcos por um problema na córnea causado por anos de um uso indevido das lentes de contato. “Eu sempre usei lentes de contato descartáveis. Só que eu não cuidei delas, eu dormia com elas, e eu fiquei com muitos meses sem tirar a do olho direito. Eu acordava com a visão embaçada, pingava soro fisiológico pra arrumar a visão, e assim foi. Um dia o meu olho amanheceu verde, depois ficou todo branco, eu tampei o olho esquerdo, pra testar minha visão, e eu tava enxergando só vulto”, afirma.

Segundo diz a cantora, foi detectada uma úlcera em sua córnea, que após 5 meses de tratamento, conseguiu ser tratada, sem, no entanto, lhe devolver a visão. A estrutura, que normalmente funcionaria como uma camada cristalina que protege o olho, e que concentra a luz na retina, estava morta no olho direito de Simone. O que, com uma catarata no outro olho, a impediu de ler as letras das músicas em cima do palco, lançando-a numa aposentadoria forçada há 2 anos. “Eles só me colocaram na fila de transplante depois que a úlcera estivesse totalmente curada. Eu entrei na fila em novembro de 2022. E estou na posição 42 da fila há mais de um mês. De 2 em 2 meses, ou de 3 em 3 meses, a posição muda. Eu tô acreditando que esse ano eu ainda não faça o transplante”, relatou. “Têm muitas músicas novas que eu tenho que olhar as letras no telefone, e eu não consigo enxergar, independentemente do tamanho da fonte. Parou minha vida profissional.”

O tipo de transplante pelo qual Simone aguarda é um dos que mais acumula casos e, por incrível que pareça, a posição dela chega a ser avançada. Segundo dados cedidos pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal, existem 638 pessoas esperando transplante de córnea, em si, o segundo tipo de transplante que mais acumula pacientes no Distrito Federal, atrás apenas do rim, com 702 pessoas. A seguir viriam a fila que espera por transplante de coração, com 51 pacientes, e de fígado, com 19.

De acordo com Elber Rocha, médico nefrologista e coordenador do Programa de Transplantes do Hospital Santa Lúcia, existem alguns fatores que explicam o número de pessoas em cada fila de espera. As filas da córnea e do rim, que se encontram com pacientes na casa das centenas, só acumulam tantas pessoas pelo fator de serem partes do corpo as quais uma pessoa pode se manter sem por um período razoável de tempo. Seja por não ser uma parte vital, como a córnea, seja pela possibilidade de que as funções do órgão sejam desempenhadas de forma artificial, como com o rim e o procedimento de hemodiálise, que filtra o sangue.

Ainda segundo Elber, essa mesma explicação, mas em sentido inverso, elucida porque a fila de paciente de fígado e coração são tão curtas em comparação. Como o rim, os órgãos desempenham funções vitais, que, no entanto, não podem ser feitas de forma artificial. De modo que os pacientes não sobrevivem à espera por um doador compatível.

O fígado e o coração, bem como o rim, dependem, além de fatores de compatibilidade, do fator tempo, de modo que devam ser tratados logo após a morte cerebral.


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“No sistema nacional de Transplantes existem duas possibilidades pelas quais uma pessoa pode receber um órgão, através de um doador falecido, ou pode receber um órgão de um doador vivo relacionado. Não é qualquer pessoa que pode doar o órgão sendo doador vivo, existem algumas regras, e para os casos que não se enquadram nessas regras, é sempre possível apelar para o judiciário, e obter uma autorização. Para a pessoa doar um órgão, sendo vivo, precisa ser um parente, até 3º grau ou cônjuge, segundo a legislação brasileira”, explica Elber.

A lista de transplantes é única, e vale tanto para pacientes da rede privada quanto para pacientes do Sistema Único de Saúde. Segundo informações do Ministério da Saúde, a lista de espera por um órgão funciona baseada em critérios técnicos, em que a tipagem sanguínea, compatibilidade de peso e altura, compatibilidade genética e critérios de gravidade distintos para cada órgão determinam a ordem de pacientes a serem transplantados. Quando os critérios técnicos são semelhantes, a ordem cronológica de cadastro, ou seja, a ordem de chegada, funciona como critério de desempate. Isso só não ocorre para pacientes em estado crítico, que são atendidos com prioridade, em razão de sua condição clínica.

Além disso, algumas situações de extrema gravidade com risco de morte e condições clínicas de um paciente aguardando transplante também são determinantes na organização da fila do transplante. São eventos determinantes de prioridade na fila de doação: a impossibilidade total de acesso para diálise (filtração do sangue), no caso de doentes renais; a insuficiência hepática aguda grave, para doentes do fígado; necessidade de assistência circulatória, para pacientes cardiopatas; e rejeição de órgãos recentes transplantados.

Segundo o Ministério da Saúde, existem 42.136 pessoas esperando por transplantes no país, sem contar com o transplante de córnea, não informado pelo órgão. Em contexto nacional, o Distrito Federal é a 11ª unidade federativa com mais pacientes à espera de um órgão, longe por dezenas de milhares do estado em que existem mais pessoas a fazer hemodiálise constantemente e que esperam a chance de um novo coração: São Paulo, com 20.499 pacientes.


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