As guerras em curso entre alguns países na Europa e no Oriente Médio, despertam a atenção das autoridades de segurança pública ao redor do mundo com o objetivo de prevenir ataques terroristas. E em Brasília, onde há um extenso setor de embaixadas, não é diferente. A região é monitorada de perto pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e, em qualquer circunstância suspeita, é deflagrada a Operação Petardo, que prevê ações integradas das forças de segurança pública nas ocorrências que envolvam artefatos explosivos em locais públicos ou privados na capital federal. O Governo do DF (GDF) investe vultosos recursos em equipamentos de última geração e no treinamento da PMDF, considerada a corporação mais bem preparada do país.
O Jornal de Brasília apurou que, desde o início dos conflitos na Faixa de Gaza, por exemplo, a embaixada de Israel, localizada a 7km do Palácio do Planalto, sede da Presidência da República do Brasil, tem requisitado, com frequência, o auxílio dos cães farejadores do Batalhão de Policiamento com Cães da PMDF (BPCães) para fazerem varreduras preventivas em diversos itens que entram nas dependências do consulado.
Em caso de algum item despertar a suspeita da patrulha K9, a Operação Petardo é acionada imediatamente e o esquadrão de bombas do BOPE/PMDF (Batalhão de Operações Especiais) entra em ação. O bikerrepórter Afonso Ventania acompanhou simulação com explosivos em frente à embaixada de Israel realizada pelo BPCães e o BOPE para conhecer de perto como é o trabalho dos policiais caninos treinados desde filhotes para detectarem explosivos e de seus condutores, assim como a frieza e destreza dos policiais do esquadrão de bombas do BOPE.
De acordo com o subcomandante do BPCães, capitão Dezen, um dos objetivos da simulação, além de refinar os protocolos utilizados pelos agentes de segurança em ocorrências com explosivos, foi de treinar os novos filhotes que foram recentemente adquiridos pelo batalhão K9.
“Recebemos seis filhotes no canil do batalhão e alguns deles serão conduzidos na simulação como forma de treinamento. Até chegar ao canil, eles são avaliados ainda durante a amamentação para identificarmos o ímpeto e a condição física de cada um. Após a seleção, os escolhidos recebem todas as vacinas e só após três meses ingressam no batalhão”, diz.
O oficial acrescenta que a maioria dos cães são adquiridos pelos próprios policiais que se tornam, naturalmente, os condutores após o início dos treinamentos. “Como o processo licitatório é muito demorado, alguns policiais compram os cães e doam para o batalhão. A raça predominante é o pastor belga malinois e eles são mantidos pelos policiais nos primeiros meses com recursos próprios”, explica.
O policial canino se aposenta após 8 anos de prestação de serviços e, geralmente, é adotado pelo condutor com quem trabalhou. Atualmente, o canil da PMDF, conta com 50 cães policiais que atuam em três frentes: busca e captura (procuram foragidos da lei ou pessoas perdidas), busca de narcóticos e armas e explosivos.
Na simulação, além dos filhotes, foram deslocados oito policiais do BPCães com quatro cães, e mais três policiais de operações especiais em três viaturas. A Operação Petardo, no entanto, quando é acionada em situação real, envolve todos os órgãos de Segurança Pública, desde o Corpo de Bombeiros, Polícia Civil, Samu, até o Departamento de Trânsito e outros.
“Os cães farejadores são fundamentais em ocorrências dessa natureza para confirmar a presença de explosivos, apesar de o Esquadrão de Bombas do Batalhão de Operações Especiais ter outras ferramentas para atestar a veracidade do artefato suspeito. Nossa missão é tornar o local de risco para a sociedade em um ambiente seguro”, informa o sargento Aristóteles do BOPE. O militar complementa que, na simulação, apenas três policiais participarão por se tratar de uma operação controlada.
Ação controlada
A embaixada de Israel foi avisada com dias de antecedência de que a simulação com explosivos aconteceria na data determinada e de forma controlada. O treinamento ocorreu em uma das vias que passam na frente do consulado, no setor de embaixadas, a uma distância segura e com todo o aparato de segurança.
“O objetivo aqui é realizar um treinamento com alguns membros do BOPE e do BPCães e, também, com os filhotes que recém chegaram no canil. A simulação consiste em responder com rapidez e eficiência a um chamado da embaixada de Israel onde, supostamente, foi localizado um objeto suspeito nos arredores”, explica o capitão Dezen.
O Esquadrão de Bombas do BOPE levou dois robôs, um americano e outro canadense, usados para evitar a exposição do operador em algumas situações e um traje anti-fragmentação recém adquirido pela PMDF. “Temos equipamentos de última geração e treinamento técnico para atender prontamente qualquer ocorrência com explosivos no DF”, avisa, Aristóteles.
Assim que o artefato foi montado pelos explosivistas em uma caixa de papelão inserida em uma bolsa cor-de-rosa listrada, o BOPE delimitou um perímetro de segurança para salvaguardar os policiais envolvidos. De acordo com o sargento Aristóteles, em uma situação real, a área a ser isolada seria muito maior.
Com o perímetro estabelecido pelo BOPE, os policiais do BPCães selecionaram a cadela Athena, da raça malinois, para ser “lançada”, no jargão policial, para fazer a averiguação do artefato. “Após o lançamento da Athena, vamos aguardar se ela identificará a ameaça e, se der positivo, informamos ao BOPE que, no segundo momento, detonarão o artefato”, conta o capitão Dezen.
Logo depois, o sargento Adílio, condutor da Athena, se aproxima do local e se posiciona atrás de um escudo colocado pelos policiais do Esquadrão de Bombas. A cadela é lançada e, rapidamente, identificou a presença de um artefato suspeito. Os cães são treinados apenas para farejarem o objeto sem qualquer toque para manter a integridade física. Uma vez identificada a ameaça, o cachorro senta ao lado do objeto até ser chamado de volta pelo condutor.
“Importante lembrar que toda essa ação, apesar de muito séria e arriscada, é uma diversão para os cães. Assim que eles encontram o explosivo eles são recompensados com alimentos ou brinquedos e brincam com os condutores”, destaca o capitão.
Detonação
Enquanto a Athena se diverte como recompensa por encontrar o artefato, os policiais do BOPE entram em ação. Um deles, o sargento Friedrich veste o traje anti-fragmentação que pesa cerca de 40kg. Para se vestir ele conta com a ajuda do colega, o sargento Rômulo que também o auxiliará, via rádio, durante a aproximação do artefato para instalar a contra-carga para detonar o explosivo encontrado.
“O traje tem ventiladores para o conforto do operador, já que uma operação pode demorar horas. E, dependendo das condições climáticas do dia, podemos colocar ainda bolsas com gelo para amenizar o calor”, esclarece Rômulo.
“O traje é pensado para oferecer conforto e segurança do policial e, apesar disso, o treinamento é essencial na nossa carreira para que a gente possa operar com eficiência para neutralizar a ameaça. Mas o desgaste é muito grande. É preciso estar bem hidratado e muito bem condicionado fisicamente”, completa, Friedrich.
Mesmo sendo uma operação totalmente controlada é possível sentir a tensão em todos os presentes. Afinal, como são experientes, os policiais sabem que ainda sendo uma simulação, é preciso ter cautela máxima e respeitar todos os protocolos de atuação. Com o traje, o sargento Friedrich, também chamado de operador nesse tipo de missão, se aproxima lentamente do artefato portando a contra-carga ligada por um fio ao detonador que será acionado pelo sargento Rômulo a metros de distância.
Ao chegar no local, o operador se ajoelha para observar melhor o objeto e decidir como melhor instalar a carga para explodir o artefato. Depois de alguns minutos, Friedrich volta até o escudo e se protege. Enquanto isso, algumas viaturas táticas interditaram todas as vias em frente à embaixada de Israel e os cães foram cuidadosamente acomodados nas viaturas.
Para garantir a segurança dos presentes, o sargento Aristóteles grita algumas vezes: “vai haver uma explosão” para alertar sobre o momento da detonação. Só então, com tudo controlado, o sargento Rômulo, agachado ao lado da viatura do BOPE, detona o explosivo. Uma fumaça azul paira no ar. Todos em silêncio. O operador sai de trás do escudo e volta ao local para se certificar de que o artefato suspeito foi integralmente destruído.
Missão cumprida!
A força-tarefa entre o BPCães e o BOPE demonstraram na simulação controlada, com sucesso, que a segurança pública do Distrito Federal é totalmente capaz de não apenas prevenir ataques terroristas, como também para neutralizá-los. Mesmo os países que estão em guerra em continentes distantes e que têm representação diplomática na capital do Brasil podem confiar na competência e no preparo da PMDF para neutralizar qualquer tipo de explosivos.
“A PMDF está apta para responder a qualquer ação que ameace a sociedade brasiliense e estamos sempre prontos para atender prontamente a qualquer chamado da população que desconfiar de algum artefato suspeito em qualquer região do DF”, encerra o capitão Dezen, subcomandante do BPCães e oficial responsável pelo treinamento.