Resíduos vegetais recolhidos por equipes do GDF se transformam em insumo para a confecção de compostos orgânicos doados às produções familiares
De modo a contribuir para a redução dos criadouros do mosquito Aedes aegypti, transmissor da Dengue, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) está com uma iniciativa inovadora que consiste em reaproveitar resíduos vegetais recolhidos na cidade para adicioná-los à produção de compostos orgânicos que, posteriormente, serão utilizados pela própria empresa no plantio de árvores ou doados a pequenos produtores rurais do Distrito Federal.
A proposta se dá ao passo que, materiais como folhas, galhos, restos de podas e plantas em decomposição podem favorecer o acúmulo de água parada, criando ambientes propícios para a reprodução do mosquito. Conforme esclarece a Novacap, após a coleta, as equipes encaminham os componentes vegetais para a unidade conhecida como Viveiro II, onde o material será processado e incorporado a compostos orgânicos destinados a embelezar canteiros ornamentais e áreas verdes da capital.
Como explica o presidente da Novacap, Fernando Leite, desde 2020 já havia o reaproveitamento, porém, com outra finalidade. “Os galhos e troncos aparados durante os serviços de podas de árvores feitos pela Novacap eram triturados e alocados em montes para passar pela compostagem e ser transformados em adubo. O conteúdo já era utilizado nos canteiros do Distrito Federal ou doado a pequenos agricultores para o uso no plantio de hortaliças e nas lavouras em geral”, relembra. “A distribuição da poda triturada é feita por meio de parceria da Novacap com a Secretaria de Agricultura (Seagri) e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de fomento à agricultura familiar. Há uma série de benefícios para o agricultor familiar que utiliza o adubo vindo da poda. O primeiro é a redução de custos, já que o composto é gratuito. O outro está ligado à melhoria na qualidade do solo”, compartilha o gestor.
Além das paisagens urbanas
Se engana, contudo, quem acredita que os benefícios serão visíveis apenas nas ruas da capital. De modo a tornar a iniciativa mais inovadora, a Companhia está trabalhando em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater-DF), que tem direcionado os substratos para melhorar pequenas produções rurais e familiares. “Esse composto orgânico tem feito a diferença para esses produtores”, explica a extensionista rural da Emater Lídia Jardim. Como salienta a especialista, eles são orientados a usar esses materiais na cobertura de campeiros, diminuindo gastos com irrigação, incidência de ervas daninhas e melhorando a produção. “Além disso, muitos aprendem a usar o material para fazer canteiros, nutrindo e deixando o solo mais aerado”, pontuou Lídia.
No ano passado, foram doadas mais de 3,7 mil toneladas de composto orgânico. Atualmente, o substrato atende as demandas de 122 produtores rurais, quatro associações de produção familiar, uma escola rural e um viveiro.
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Uma das produtoras beneficiadas é a produtora familiar Adelaide Guedes, de 65 anos. É justamente com o composto doado pela Novacap que ela nutre as diversas hortaliças que, plantadas em sua chácara, no Assentamento 15 de Agosto, em São Sebastião, após a colheita, vão parar no prato dos estudantes da rede pública de ensino do DF, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). “Essa é com certeza uma ajuda muito boa que o governo nos dá. É muito difícil para a gente ter que comprar adubo, é muito caro”, compartilha a produtora. “Aqui na chácara, a gente usa composto que eles nos doam para tudo; coloco em todas as hortaliças e faz muita diferença, especialmente na época da seca”, conta.
Como compartilha Adelaide, sua produção cresceu significativamente depois que ela começou a receber o material e o acompanhamento de técnicos da Emater. “Tem sido muito bom ter esse apoio, ainda mais para a gente que faz entregas para a merenda escolar dos meninos”, enfatiza. Em sua propriedade, o plantio é variado: cebola, cheiro-verde, beterraba, mandioca, batata, feijão, berinjela, repolho, alface. “De fruta, a gente planta banana, laranja, limão, goiaba, abacate…”, detalha.
A engenheira agrônoma Roseli Garcia, extensionista rural da Emater-DF, contou ao JBr que os benefícios vistos pelos agricultores em suas produções foram muitos. “Essa matéria orgânica ajuda bastante o solo em suas propriedades físicas e biológicas, deixando a terra mais aerada, o que é muito importante para as raízes, e favorecendo microrganismos, como minhocas e besouros”, salienta a técnica. “Houve, contudo, um processo de convencimento do uso dessa matéria, pois no início, eles [agricultores] não sabiam usar. Foi feito todo um trabalho de educação, de demonstração e de acompanhamento para que eles vissem os resultados e passassem a usar. Hoje eles não abrem mão desse material”, completou Roseli.
“As podas são muito bem vindas aqui. Eu planto abacaxi, mandioca, maracujá, banana e hortaliças, e utilizo o composto em todas essas colheitas. A Emater nos ajuda muito trazendo esse material até nós”, compartilha a produtora Maria Aldenice da Silva de Araújo , de 42 anos. “Além disso, esses resíduos triturados são excelentes coberturas nos canteiros, ajudando com a questão de perda de água”, acrescentou a trabalhadora de São Sebastião.
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A Emater-DF afirma que, por meio das visitas dos técnicos e cadastros existentes, faz uma busca ativa de produtores que possam ser beneficiados pelo programa de distribuição do composto orgânico. Quem se interessar pode procurar o órgão para mais informações no site da empresa.
Reflexo do crescimento populacional
Como destaca Fernando Leite, o resíduo vegetal é um problema ligado ao crescimento populacional do DF, o que gera muitas reclamações devido a questões como proliferação de mosquitos e acúmulo de lixo doméstico. “Esta nova operação visa tratar especificamente os resíduos vegetais, garantindo limpeza urbana e a destinação adequada desses materiais”, pondera o presidente da Novacap. “Faço um apelo à população para assumir a responsabilidade pelo correto descarte de seus resíduos. A companhia coleta resíduos gerados por seus próprios serviços, mas resíduos particulares em áreas públicas devem ser descartados corretamente pelo gerador. Em caso de identificação do responsável, este deve se encarregar do descarte adequado ou buscar orientação junto ao DF-Legal para evitar multas e outras penalidades”, finalizou.
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