No Distrito Federal, o projeto “Papo Reto na Escola: Arte, Cultura e Literatura” vem transformando a forma como jovens percebem a escola, a escrita e a si mesmos. Criado pelo professor Jucelino de Sales, doutor em Literatura pela Universidade de Brasília (UnB) e docente da Secretaria de Educação do DF (SEEDF) e da Universidade Estadual de Goiás (UEG), a iniciativa busca aproximar o ensino médio da pesquisa científica e das artes, tornando a escola um espaço de criação e pertencimento.
Inspirado pela pedagogia crítica e pelas diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o projeto utiliza a gíria “papo reto” — símbolo da comunicação direta entre jovens das periferias — como metáfora para uma educação dialógica, ética e criativa. A proposta incentiva o protagonismo estudantil, fortalece a imaginação criativa e aproxima os alunos do universo acadêmico.
“Quando o estudante escreve, declama e publica, ele se reconhece como autor. Isso transforma a relação com a escola e com o conhecimento”, afirma Jucelino de Sales.
O projeto tem como palco principal o Centro de Ensino Médio II de Planaltina, onde o professor, em parceria com a orientadora educacional Keila Nazaré da Cunha e uma equipe interdisciplinar, desenvolve atividades que combinam oficinas de escrita criativa, rodas de conversa, produções artísticas e audiovisuais e editais literários internos. Os resultados culminam em eventos públicos e publicações coletivas, incluindo apresentações de slam, raps autorais e obras visuais.
Com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do DF (FAPDF), por meio do Edital de Demanda Espontânea (2022), o projeto se consolidou como uma proposta de iniciação científica e inovação pedagógica, estimulando investigação científica, processos criativos e trabalho coletivo interdisciplinar.
Em 2021, durante o ensino remoto, o projeto realizou o 1º Edital Artístico-Literário Papo Reto — Artistas Juvenis, com o tema “Eu crio uma arte de consciência negra pra geral”, resultando em uma coletânea sobre identidade, ancestralidade e combate ao racismo. Com o retorno às aulas presenciais, novas edições ampliaram o alcance do projeto, abordando temas como cultura de paz e enfrentamento à violência escolar.
O Papo Reto também integra a rede Periferia Brasileira de Letras, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), reunindo coletivos literários de todo o país e valorizando a palavra como instrumento de saúde, arte e cidadania. Além disso, os estudantes participam da pesquisa científica, mantendo diários de bordo, analisando resultados e apresentando artigos em eventos acadêmicos, como o encontro literário em São Paulo, em 2023.
O impacto do projeto vai além da produção artística. Ele promove formação cidadã, valorização da diversidade, diálogo e combate a preconceitos e violências, em consonância com as competências gerais da BNCC de formar cidadãos empáticos, críticos e colaborativos. Entre os resultados alcançados estão coletâneas publicadas anualmente, formação de bolsistas de iniciação científica e fortalecimento do vínculo entre escola e comunidade.
“O que queremos é que cada jovem compreenda que a criatividade e a ciência caminham juntas. Que ele possa olhar para o seu território e perceber que há potência e conhecimento em cada vivência”, resume Jucelino.
Para Leonardo Reisman, diretor-presidente da FAPDF, iniciativas como o Papo Reto demonstram o papel transformador da pesquisa e da cultura nas comunidades escolares.
“Quando investimos na formação de jovens criadores e pensadores críticos, estamos investindo no futuro do Distrito Federal”, destacou Reisman.
Com informações da Fundação de Apoio à Pesquisa do DF