Juros altos dificultam financiamento imobiliário no DF


478 1 sao paulo

Por Vítor Ventura

Os juros altos têm dificultado a vida de quem busca uma casa ou apartamento próprio no Distrito Federal. Os impactos da Taxa Selic, taxa básica de juros fixada pelo Banco Central (BC), em 15% ao ano, maior patamar desde 2006, começam a ser vistos no setor imobiliário com a queda no número de financiamentos na capital. De acordo com a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), ao comparar o período de janeiro a julho de 2024 e 2025, tanto a quantidade de imóveis quanto o valor financiado caíram no DF.

Em 2024, entre janeiro e julho, foram financiados 7.681 imóveis na capital. Analisando o mesmo período neste ano, foi verificada uma redução de 14,5%, e o número de financiamentos foi de 6.569. Do mesmo modo, o valor total financiado também diminuiu. No ano passado, foram R$ 3,27 bilhões e em 2025, R$ 2,98 bilhões, representando uma queda de 8,75%. Apesar da redução, o mercado imobiliário do DF ainda não apresenta sinais de desaquecimento.

Um dos fatores que pode explicar a diminuição é a Selic a 15%, maior nível desde julho de 2006, quando atingiu 15,25% ao ano. Em 2025, ela chegou a esse patamar após decisão unânime do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC no mês de junho. A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Daniela Freddo, professora do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), explicou ao Jornal de Brasília que a Selic serve como referência para as demais taxas de juros, incluindo as de financiamentos imobiliários.

“Quando a Selic sobe, os bancos elevam o custo do crédito, o que encarece o financiamento e reduz a demanda por imóveis. Isso desaquece o mercado imobiliário, pois os compradores se retraem diante de parcelas mais caras e prazos menos acessíveis”, apontou Daniela. Conforme destacou a professora, o BC manteve a taxa básica de juros em 15% ao ano para conter a inflação persistente, em meio a riscos fiscais, atividade econômica aquecida e incertezas externas.

Além do impacto nos juros, Daniela reforçou que a Selic alta também eleva os custos de captação dos bancos, reduz o apetite das instituições para conceder crédito e diminui a capacidade de pagamento dos consumidores, que acabam desistindo ou adiando a compra. “Na prática, isso se traduz em restrições adicionais no mercado. A Caixa Econômica Federal, maior financiadora habitacional do país, reduziu o percentual de imóveis financiados no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), exigindo entradas maiores (30% no SAC e 50% no Price) e limitando o financiamento a 70% ou 50% do valor do imóvel, além de manter teto de R$ 1,5 milhão para essa modalidade”, analisou a professora.

Daniela reforçou ainda que não há indicação de que o Banco Central diminua a taxa Selic nos próximos meses. “As expectativas mais recentes apontam que os cortes devem ocorrer apenas a partir de início de 2026, o que significa que em 2025 a taxa tende a permanecer estável em níveis elevados”, explicou.

Mercado imobiliário ainda em alta

Ao Jornal de Brasília, Celestino Fracon Júnior, presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF), também destacou que a Selic alta compromete o funding da Caixa, ou seja, a mobilização de recursos de via mercado de capitais ou mercado bancário com prazo de amortização compatível ao prazo de maturação do investimento. “O cenário de juros altos também pode influenciar o consumidor na decisão de compra, já que o momento é de instabilidade econômica”, avaliou Júnior.

Apesar da queda no número de imóveis financiados e no valor financiado, o mercado imobiliário ainda continua aquecido, segundo o presidente da Ademi-DF. “Mesmo diante da alta de juros e do momento de incertezas fiscais, o mercado imobiliário do DF tem se mostrado forte e saudável, com uma velocidade de vendas expressiva e redução da oferta”, ressaltou Júnior.

Na avaliação dele, há uma série de fatores que dão certa robustez ao mercado imobiliário do DF, como o perfil de renda elevado, impulsionado pelo funcionalismo público, e a oferta de terreno limitada, que favorece a valorização do imóvel. Júnior também evidenciou o papel do Banco BRB, que satisfaz, em certa medida, a demanda por crédito e contribui para a solidez do mercado imobiliário local.

“Nossa expectativa é que o setor se mantenha positivo no segundo semestre, considerando as sinalizações de reorientação da política econômica. Recentemente, por exemplo, o BRB anunciou a redução da taxa de juros para financiamento imobiliário, que passou a ser de 10,50%. Esse movimento do mercado é muito bem-vindo, pois impulsiona o nosso setor e favorece o desenvolvimento do DF”, complementou.


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