No dia 23 de maio, parte da memória da capital percorreu suas ruas na carroceria de um caminhão decorado com a identidade visual do Jornal de Brasília. A exposição itinerante do acervo foi instalada por algumas horas na Rodoviária do Plano Piloto e, em seguida, seguiu pelas vias da cidade rumo ao seu destino final: o Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF). A ocasião marcou a segunda etapa da doação do acervo do JBr ao ArPDF, como presente pelos 65 anos de Brasília.
Mais do que um gesto simbólico, a doação representa um compromisso concreto com a preservação da memória do Distrito Federal. São mais de 17 mil edições impressas e décadas de registros que testemunham o cotidiano de Brasília, do Brasil e do mundo — agora parte integrante do acervo oficial da cidade.

Além das publicações, o JBr doou milhares de negativos e fotografias da era analógica, eternizando o olhar de seus profissionais sobre a construção e o desenvolvimento da capital. O material estará disponível para consulta pública, permitindo que moradores, estudantes e pesquisadores de todo o país tenham acesso a esse rico patrimônio documental.

A doação foi oficializada no dia 21 de abril, em cerimônia no Palácio do Buriti, com a assinatura do acordo entre o Jornal de Brasília e o Governo do Distrito Federal. O sócio-proprietário Marcos Lombardi, o diretor-superintendente Renato Matsunaga e o diretor de Marketing Guilherme Lombardi foram recebidos pelo governador Ibaneis Rocha. O encontro reafirmou o compromisso do Grupo JBr com a valorização da memória brasiliense e contou com a mediação do superintendente do Arquivo Público, Adalberto Scigliano.

Uma nova perspectiva histórica
Para o historiador Elias Manoel da Silva, do Arquivo Público do DF, a chegada do acervo do Jornal de Brasília amplia de forma significativa o tipo de documentação disponível para pesquisa. “Historicamente, o Arquivo é composto majoritariamente por documentos governamentais. A entrada desse acervo permite acessar uma nova perspectiva: a da imprensa, do cotidiano, da população. Não é mais apenas a história contada pelos governos, mas também a história vivida e registrada pelos profissionais da informação”, destaca o professor.
Segundo ele, a doação representa uma fonte primária riquíssima, que possibilita narrar a trajetória da cidade sob o olhar da sociedade civil, das comunidades e dos trabalhadores que ajudaram a construir Brasília.

Preservação, digitalização e acesso
Responsável técnico pelo acervo no ArPDF, o arquivista Hélio Júnior explicou os próximos passos após o recebimento do material. Segundo ele, o processo de preservação exigirá tempo, equipe especializada e muito cuidado. “Só de fotografias, estamos recebendo cerca de dois milhões de imagens. Antes da doação, nosso acervo fotográfico somava cerca de um milhão e meio. Ou seja, praticamente dobramos esse volume”, observou.
O trabalho será realizado em três grandes etapas: higienização dos materiais (com verificação de fungos e pragas), catalogação do conteúdo e digitalização para garantir o acesso remoto. “O objetivo é preservar o acervo físico e, ao mesmo tempo, garantir que ele esteja acessível a pesquisadores, estudantes e à população em geral. O Arquivo Público é de todos”, afirma Hélio.

Ele reforça que qualquer pessoa pode consultar os documentos — desde estudantes do ensino fundamental até pesquisadores em pós-doutorado —, sempre com o apoio de profissionais capacitados. “A história de Brasília é também a história de quem vive nela. Preservar essa memória é preservar a identidade da cidade”, concluiu.
Com essa doação, o Jornal de Brasília reafirma seu papel como guardião e narrador da história da capital. Um presente à altura da cidade que nasceu para fazer história.