Por Lucas Alarcão
Desde os primeiros meses de vida, muitas crianças já têm algum tipo de contato com o esporte, seja correndo, brincando com uma bola ou explorando movimentos espontaneamente. Professora de educação física do CEUB, Leandra Batista afirma que o contato precoce com esportes ou atividades físicas traz várias vantagens físicas, psicológicas e sociais que ajudam no desenvolvimento geral da criança.
“A prática regular de esportes desde a infância fortalece o coração e os pulmões, melhorando a capacidade de transportar oxigênio e energia pelo corpo. Atividades como correr, nadar e jogar bola estimulam o sistema cardiovascular e respiratório, reduzindo o risco de doenças no futuro”, diz a professora.
Entre os benefícios físicos, a professora destaca a contribuição para a densidade óssea e saúde dos ossos, pois, durante a infância, os ossos estão em plena formação, e a prática esportiva, especialmente atividades que envolvem impactos como saltar, correr e praticar ginástica, estimula o aumento da densidade mineral óssea.
“Esses estímulos mecânicos enviam sinais biológicos para que o corpo deposite mais cálcio e fortaleça a estrutura óssea, prevenindo osteoporose e fraturas na vida adulta. Esse efeito é mais intenso quando os hábitos esportivos começam cedo”, afirma a pesquisadora.
Prevenção de obesidade
Além dos benefícios para a densidade óssea e a saúde dos ossos, outra questão importante é o controle de peso, a prevenção da obesidade e a melhora metabólica.
De acordo com a professora, o esporte ajuda a equilibrar o gasto e a ingestão de energia, prevenindo o acúmulo de gordura corporal.
“Crianças fisicamente ativas têm menor risco de desenvolver obesidade, diabetes tipo 2 e dislipidemias. Além disso, o exercício melhora a sensibilidade à insulina, regula a glicemia e otimiza o metabolismo de lipídios, promovendo um perfil metabólico mais saudável ao longo da vida”, diz a professora.
A professora afirma que outro ponto relevante é o impacto positivo no desenvolvimento cognitivo e no rendimento escolar. Ela diz que as atividades físicas, especialmente as aeróbicas, melhoram a circulação sanguínea e, consequentemente, o funcionamento do circuito neural.
Além disso, ela completa dizendo que estudos mostram que crianças que praticam esportes regularmente apresentam melhor atenção, memória de trabalho e desempenho escolar, além de maior capacidade de planejamento e resolução de problemas.
Lazer ou trabalho?
Na prática de esporte realizada por crianças existe uma linha tênue entre praticar esporte de forma recreativa, ou seja, “brincar”, e “treinar como atleta”, o que pode implicar carga excessiva, pressão, expectativa, desgaste emocional e até lesões por esforço repetido.
Para Leandra, a prática esportiva na infância deve ser um espaço de prazer, aprendizado e socialização, no entanto, quando o esporte começa a gerar pressão excessiva ou perda do prazer, ele pode se transformar em uma fonte de estresse e até mesmo em um tipo de trabalho precoce, contrariando os princípios do desenvolvimento saudável.
“Pesquisas da American Academy of Pediatrics e da National Strength and Conditioning Association apontam que o equilíbrio entre prazer, descanso e diversidade de atividades é essencial para o bem-estar físico e emocional das crianças”, ressalta a professora.
Alerta
Ela avalia que existem alguns sinais de que o esporte está se tornando “trabalho demais”, por exemplo quando a criança demonstra desinteresse, ansiedade ou irritação com os treinos, isso indica que a prática perdeu o caráter lúdico.
Além disso, Leandra afirma que outro ponto é a sobrecarga de treinos e a falta de descanso, de acordo com a professora, treinos muito intensos e pouco tempo para brincar, dormir ou estudar comprometem o desenvolvimento físico e cognitivo.
Perdendo a infância por um esporte
Para a professora, não é viável que crianças deixem de viver suas infâncias por um esporte, pois isto pode ter consequências negativas.
Ela diz que um nível extremo de dedicação esportiva, com alta carga de treinos, competições frequentes, especialização precoce e pressão externa, pode comprometer o bem-estar psicológico, a socialização, o descanso, o sono, o desempenho escolar e a saúde física.
“É saudável que a criança dedique parte do seu tempo ao esporte, especialmente se ela gosta, mas ‘perder a infância’, ou seja, sacrificar quase todo o tempo em função de obrigações e pressões, não costuma trazer bons resultados a longo prazo”, destaca.
Leandra afirma que muitos atletas de alto rendimento declararam ter tido experiências negativas nesses níveis extremos. A professora completa dizendo que não é contra competições esportivas, mas considera arriscado submeter crianças a altas pressões e competições exaustivas, principalmente sem apoio psicológico.
Lugar de criança é na academia?
De acordo com a professora, “academia” pode significar muitas coisas, como uma sala de musculação, o uso de aparelhos pesados, treinos de força intensos ou levantamento de peso. Ela diz que não são todas as academias que são proibidas, mas há riscos e precauções que justificam certa cautela.
“O problema é que, na prática, a maioria das academias não oferece essas condições. O ambiente tende a ser mais voltado à performance adulta, com música alta, pouca adaptação de aparelhos e atenção insuficiente, o que aumenta riscos e reduz o caráter lúdico”, afirma.
Ela pondera que o ideal seriam ambientes com profissionais capacitados em infância e protocolos específicos para cada faixa etária, e se o espaço não atende a esses critérios, como infelizmente ainda é comum, é melhor optar por modalidades e locais pensados para crianças, como esportes escolares, clubes e projetos com metodologia infantil.
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira