A obesidade nem sempre é resolvida de forma natural. Foi o que afirmou o cirurgião geral e gastroenterologista Orlando Faria na palestra promovida pela Cipa na sede administrativa do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF), nesta sexta-feira (30). “Se você ainda acha que obesidade se resolve com força de vontade, dieta e academia, chegou a hora de rever seus conceitos.”
Com o tema Obesidade e Cirurgia Bariátrica, o encontro fugiu do tradicional. Em vez de fórmulas prontas, o médico convidou à reflexão. “Essa história de que basta comer menos e se exercitar mais é, talvez, a maior mentira já contada para quem convive com obesidade”, afirmou, citando pesquisas que mostram pacientes ativos fisicamente que, mesmo assim, não conseguem emagrecer.
Durante uma hora, Orlando Faria conduziu uma aula sem slides ou termos difíceis, mas com dados, histórias reais e exemplos que despertaram reflexão. Para ele, a obesidade é uma doença crônica, multifatorial e perigosa.
Segundo o médico, a obesidade está associada a mais de 200 doenças, entre elas diabetes, hipertensão, apneia do sono, refluxo, colesterol alto e até 60 tipos de câncer. Ele mencionou o caso recente de uma paciente com câncer de mama que passou por cirurgia bariátrica como estratégia complementar. “A perda de peso melhora o prognóstico de várias doenças. Essa é uma realidade que muitos ainda não enxergam”, explicou.
Faria destacou que medicamentos injetáveis, como os populares “canetinhas” (ex: Ozempic e Mounjaro), têm revolucionado o tratamento da obesidade, mas não substituem a cirurgia bariátrica, que permanece necessária em muitos casos. “A cirurgia é uma estratégia, assim como o uso de remédio para controlar a pressão”, comparou.
Na palestra, o médico também explicou o conceito de “set point”, um ponto metabólico que determina a quantidade de gordura que o corpo tende a acumular, independentemente da ingestão calórica. Esse marcador é influenciado por fatores como genética, idade, estresse, sedentarismo, ritmo circadiano, cultura alimentar e ambiente familiar.
“Se fosse tão simples como comer menos e se mexer mais, ninguém seria obeso. Essa teoria não se sustenta diante da diversidade humana. Precisamos de estratégias personalizadas e sustentáveis”, ressaltou.
Ele aconselhou: “Evite ultraprocessados e prefira alimentos naturais. Faça atividade física não para emagrecer, mas para viver melhor. Mantenha os músculos ativos, durma bem. E saiba que o ambiente onde você vive influencia muito mais do que imagina.”
Ciclo de palestras
A palestra foi a última da programação especial de maio da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) do IgesDF, que durante o mês abordou temas como doenças respiratórias, queimaduras, saúde mental e prevenção de acidentes.
Quem participou aprovou. Betânia Oliveira, da Corregedoria do instituto, afirmou que o encontro foi mais que informativo. “Ele esclareceu muitas dúvidas com uma didática impressionante. Saímos daqui com conhecimento para a vida”, disse.
A vice-presidente da Cipa, Juliana von Sperling, celebrou o encerramento do ciclo com sentimento de missão cumprida. “A ideia foi essa: uma conversa informal, mas com conteúdo técnico e humano, para cuidar da saúde de forma integral”, afirmou.
O médico encerrou o bate-papo com uma provocação otimista: “Se você vai enfrentar um inimigo poderoso, precisa de boas estratégias. Viver é arriscado, mas viver bem é uma escolha. Tratar a obesidade com seriedade faz parte disso.”
*Com informações da Agência Brasília