Por Daniel Xavier
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As escolas de gestão compartilhada do Distrito Federal têm registrado índices de aprovação que ultrapassam os 80% entre pais, alunos, professores e servidores. Em algumas unidades, o reconhecimento chega a quase unanimidade, como no Centro de Ensino Fundamental (CEF) 17 de Taguatinga, a pesquisa apontou 98,3% de aprovação. Os dados, divulgados pela Secretaria de Educação (SEEDF) e pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), refletem o impacto do modelo cívico-militar, presente em 25 escolas da capital.
Mais do que números, a transformação pode ser sentida dentro e fora dos muros escolares. “O ambiente está muito mais seguro em vários aspectos”, contou ao Jornal de Brasília a diretora do CEF 17, Andréia Ferreira. Há mais de dez anos na unidade, ela lembra que, antes, a rotina era marcada por episódios de insegurança e falta de estrutura. “Hoje temos apoio imediato para situações de saúde, primeiros socorros e até acompanhamento nos arredores da escola, o que afasta a criminalidade. É uma mudança que impacta a vida de toda a comunidade”, completa.

A chegada dos militares também modificou a rotina disciplinar. “O adolescente testa limites, e no começo houve resistência. Mas agora eles entendem que as regras não são para punir, e sim para organizar a convivência. Isso trouxe um senso de pertencimento e responsabilidade que não víamos antes”, afirma Andréia. Ela destaca ainda o surgimento de novas oportunidades: cursos de primeiros socorros, aulas de música e até a formação de uma fanfarra.
Segurança, disciplina e rendimento
A pesquisa de satisfação, aplicada em 11 escolas, mostrou que a menor nota de aprovação foi de 81,38%. Segundo o subsecretário de Escolas de Gestão Compartilhada, coronel Alexandre Ferro, os resultados estão ligados à combinação entre segurança, disciplina e rendimento escolar. “Levamos esse modelo para regiões mais vulneráveis, com baixo IDH e altos índices de criminalidade. Quando a escola recebe esse braço do Estado, a violência se afasta e os jovens encontram um ambiente protegido para aprender”, disse ao Jornal de Brasília.


O subsecretário refuta críticas de que a disciplina militar possa engessar a rotina escolar. “Há disciplina sim, mas disciplina deriva do respeito. Não há autoritarismo. Nossos militares recebem capacitação em Direitos Humanos, Estatuto da Criança e do Adolescente, comunicação não-violenta. O objetivo é apoiar o trabalho pedagógico, não substituí-lo”, reforça.
A nova realidade

A experiência já começa a refletir nas histórias de alunos. O jovem David Vinicius Durães, 16 anos, viu sua vida tomar outro rumo com a gestão compartilhada. Em 2024, precisou deixar o CEF 17 por problemas disciplinares, mas decidiu retornar neste ano. “Antes eu não seguia normas, chegava sem uniforme, atrasado. Hoje entendo a disciplina como uma oportunidade. Aprendi que tenho um futuro e não posso deixar os erros do passado me atrapalharem”, relatou em entrevista à Agência Brasília.
A mudança também é percebida pelas famílias. Claudia da Silva, dona de casa e mãe de dois alunos, afirma que o comportamento dos filhos melhorou tanto dentro quanto fora da escola. “Um dos meninos era terrível e agora deu uma acalmada. Antes eu vinha aqui quase todo dia, agora quase não venho mais. Até a violência na porta da escola diminuiu, meu filho já sofreu agressão psicológica ali e isso nunca mais aconteceu”, contou ao Jornal de Brasília.
O governo do DF planeja expandir o modelo para 40 unidades até 2026, priorizando escolas em áreas de maior vulnerabilidade social. Atualmente, 17 delas contam com apoio do Corpo de Bombeiros Militar e oito da Polícia Militar. Três dessas escolas já figuram entre as melhores no Ideb da rede pública: CEF 01 do Núcleo Bandeirante, CEF 19 de Taguatinga e CED 416 de Santa Maria.