Criança morre em hospital público e família denuncia negligência

A pequena Anna Júlia Galvão, de oito anos, morreu no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib) após passar pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e pela Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ceilândia. O caso ocorreu no dia 17 de abril, mas ganhou repercussão após a família denunciar a suspeita de negligência médica.

Ao Jornal de Brasília, a mãe de criação da criança, Millena Galvão, contou que no dia 15 de abril a família notou que Juju, como era carinhosa chamada pelos familiares, apresentava febre, tosse, dificuldade em respirar e se queixava de desconforto e dor nas costas. Por conta disso, a menina foi levada a UBS 7 de Ceilândia, onde fez a triagem e testes rápidos para dengue e covid, mas ambos deram negativos.

Na unidade, a família relata que Anna Júlia apresentou batimento cardíaco alterado, mas que enfermeira da unidade disse que era por conta do uso da bombinha e, por isso, a profissional diminuiu a dosagem. Mesmo com o teste negativo de dengue, a menina foi diagnosticada com a doença e, após isso, foi solicitado um hemograma que deveria ser feito apenas no dia seguinte na UBS 5, unidade mais próxima da residência da família.

No dia 16, Anna Júlia fez o hemograma e, após o resultado do exame, a família tentou atendimento na UBS 5 porque a menina estava muito mole e sonolenta. Porém, os familiares foram informados de que não havia médico na unidade naquele dia para atendimento e que o atendimento poderia ser feito apenas no dia seguinte. Os familiares retornaram com a menina para casa, e continuou seguindo o tratamento para dengue, que até então era o único que tinha sido passado.

Ainda no dia 16, à noite, Anna Júlia apresentou piora no quadro, e se queixava constantemente de dor nas costas. Por isso, Millena foi à UBS 7 em busca de atendimento para a filha. Na unidade, a criança foi atendida por uma médica que descartou imediatamente que era dengue ao analisar o resultado do hemograma. Foi feita ausculta pulmonar, no qual verificou que o pulmão da menina estava cheio. Por falta de estrutura na UBS, a criança foi encaminhada para UPA I de Ceilândia.

“Minha filha ficou 24 horas recebendo tratamento de um diagnóstico errado, e mesmo na UPA tivemos várias outras dificuldades. Depois de muita insistência na UPA, conseguimos que chamassem a Juju para triagem. Na unidade, eu questionei a frequência cardíaca e informei sobre a frequência respiratória e implorei para que fosse dado pulseira vermelha para ela, mas eles se recusaram a fazer a contagem da frequência respiratória e disse que a alteração cardíaca e a alteração da frequência respiratória não eram indicativos suficientes para pulseira vermelha”, lamentou Millena.

Mesmo com a insistência da mãe, Anna Júlia recebeu pulseira laranja e foi atendida apenas na madrugada do dia 17 de abril. A menina ficou internada na UPA para que fossem feitos outros exames. Os familiares contam que a própria família teve que correr em busca dos exames e de médico, pois não tiveram suporte adequado dentro do local.

Após vários exames, Anna Júlia foi diagnosticada com pneumonia grave e derrame pleural, ou seja, acúmulo anormal de líquido na membrana que envolve o pulmão. Por conta disso, era preciso fazer uma ultrassonografia na criança, mas que não era possível fazer na UPA. Então, a família foi informada que a menina seria transferida para o Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib).

Anna Júlia aguardou cerca de seis horas para ser transferida para o hospital: “Às 14:10, a Juju teve o primeiro choque, teve hipotermia, com a temperatura chegando a 34, além de falta de ar. Socorreram ela, estabilizaram e informaram novamente que ela seria transferida para o Hmib. Pela manhã, às 9h50, eles já tinham falado que ela seria transferida, mas que estavam aguardando vaga. A informação da tarde foi que estavam aguardando a ambulância. Apenas por volta das 16h a ambulância chegou para transferência”, contou Millena.

Já no Hmib, enquanto aguardava a realização do exame de ultrassonografia, Anna Júlia reclamou de tontura e logo depois entrou em choque e apresentou falta de ar. A mãe da menina lembra que a filha gritava de dor e se debatia muito: “Logo depois, corremos para a sala vermelha e o médico precisou aplicar um calmante para conseguir estabilizá-la. Depois, ele solicitou que a Juju fosse intubada imediatamente. Durante o procedimento de intubação minha menina veio a óbito”, lembrou Millena.

A causa da morte de Anna Júlia foi caracterizada por choque séptico e pneumonia bacteriana, de acordo com a certidão de óbito. A suspeita de negligência médica está sendo investigada pela 24º Delegacia de Polícia (DP) de Ceilândia. Alguns familiares da criança já foram ouvidos, e os próximos passos são ouvir os profissionais de saúde que atenderam a menina.

“O sentimento é de revolta é uma sensação de indignação, minha filha só tinha 8 aninhos, tinha uma vida inteira pela frente, assim como todas as outras crianças que tiveram suas vidas ceifadas pelo descaso, pela irresponsabilidade, pela omissão do Estado e dos profissionais da área da saúde. Agora nossa família busca por justiça, queremos que o IGES-DF, o GDF e todos os profissionais envolvidos diretamente no caso da minha filha sejam identificados, responsabilizados e punidos. Não vamos descansar até que a justiça seja feita”, disse Millena.

Em nota ao JBr, a Secretaria de Saúde (SES-DF) informou: “No dia 15 de abril a paciente procurou a UBS, ocasião em que foram solicitados exames para diagnóstico. Ao sair o diagnóstico no dia 16, o médico verificou a urgência do caso, encaminhando a criança para a UPA”. A pasta ressaltou ainda que ao dar entrada no Hmib, “a paciente foi prontamente atendida, e teve todo suporte da equipe médica. Após todos os procedimentos, infelizmente a criança não resistiu e veio a óbito”.

Também em nota, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF) também afirmou que a criança recebeu todo suporte na rede pública de saúde: “A paciente foi admitida na UPA I de Ceilândia no dia 16 de abril com sinais vitais estáveis. Ela foi atendida, recebendo toda a assistência necessária, depois foi solicitada a transferência para um centro especializado, conforme protocolo de atendimento”.

“Esclarecemos que durante o processo de transferência, a ambulância precisou aguardar enquanto a equipe médica estabilizava a paciente, antes de sua remoção. Durante todo o período de sua permanência na unidade, a paciente recebeu cuidados contínuos. As UPAs estão enfrentando uma grande demanda devido à sazonalidade das doenças respiratórias e à epidemia de dengue, especialmente entre as crianças. Esses dois fatores combinados têm contribuído para a superlotação das UPAs e o aumento no tempo de espera por atendimento”, completou o Iges-DF.

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