Componente de planta comum pode ajudar a enfrentar a dengue, no futuro

A Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UnB) está trabalhando em um agente larvicida feito à base de uma planta comum no mundo todo, e de larga produção no Brasil. O composto poderia, com mais pesquisas e investimento, gerar um produto que pode, em última análise, servir como uma arma contra o aedes aegypti, mosquito responsável pela transmissão da dengue e de outras arboviroses.

O agente larvicida, que está em fase adiantada de testes, é desenvolvido no insetário da UnB o Laboratório Professor José Elias de Paula (em homenagem ao renomado botânico da UnB falecido em 2013), e também no Laboratório de Farmacognosia (ambas na Faculdade de Ciências da Saúde), onde são estudados os princípios ativos em plantas ou animais em busca de novos fármacos. Os dois locais estão sob coordenação da professora do Departamento de Farmácia (FAR/FS/UnB) Laila Espíndola.

Gaiola do laboratório equipada com água e alimento para cerca de mil mosquitos Aedes aegypti. Foto: André Gomes/Secom UnB

“Esse produto em teste tem que ser barato, não pode ser tóxico e o insumo tem que existir em grande quantidade para podermos fazê-lo também em grande quantidade para controlar um mosquito que está em todos os lugares”, relata a professora. “Então, começamos a triar coisas que todos já usam como alimento e achamos uma dessas amostras que são produzidas no mundo inteiro, consumidas no mundo inteiro há milênios, e que o Brasil ainda é um grande produtor, ou seja, temos um insumo, a matéria-prima, em grande quantidade”, revela.

Segundo explicou a docente, ao extrair os compostos da planta, cuja identidade é segredo de laboratório e não pode ser divulgada, a equipe descobriu uma molécula majoritária que funcionou bem quando atuava em conjunto com as outras. De modo que se conjecturou que a solução seja mais simples do que se pensava. “Não precisaremos nem isolar o composto, será só fazer o controle de qualidade. E é nisso que estamos trabalhando agora. Estamos em fase avançada de formulações. Vamos fazer testes em laboratório até chegar à melhor formulação que, além de ser barata, tem de ser estável, para durar anos para ser usada”, aponta Laila. A solução é pensada para ser utilizada em pó.

Bandeja com ovos e larvas do mosquito Aedes aegypti permitem a manutenção da colônia do vetor da dengue no Insetário da UnB para testes de inseticidas e repelentes desenvolvidos no laboratório. Foto: André Gomes/Secom UnB

Apesar de representar um salto potencial no combate a doença que, de ano em ano, assola o Brasil, a dengue, Paula Correa, pós-graduanda em Farmacognosia na UnB ressalta os desafios que existem entre a ideia, ou a descoberta, e o produto na prateleira, disponível por uma quantia acessível. “Claro que o que a sociedade quer é um produto ali pronto e acabado para o uso comum. Só que há muitos desdobramentos que são importantes ao longo desse processo e que vão acontecendo: a formação de recursos humanos, o conhecimento da biodiversidade, a valorização do nosso patrimônio genético, do patrimônio brasileiro. Então é todo esse trabalho, não é só o produto final”, ressalta. “Chegar nesse produto depende de empresa, universidade, governo, todo mundo trabalhando conjuntamente para que, de fato, aconteça”

Segundo afirma Laila, o foco no desenvolvimento do produto larvicida está no uso pela população de baixa renda que, sequer, consegue ter acesso a água encanada. Não é um ato incomum, conta a pesquisadora, que pessoas sem acesso a um fornecimento próprio de água potável façam reserva de água, o que proporciona um criadouro perfeito ao mosquito da dengue. “Dentro do edital Bio Learning, da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), estamos focando em um produto larvicida que já está super adiantado, que a gente vai poder pôr na água e em caixa d’água para as pessoas que fazem reserva”, conta.  O financiamento da FAPDF foi de R$800 mil para um projeto de dois anos de duração.

Arthur Ramos, Paula Correa, Laila Espíndola e Fabiana Almada desenvolvem pesquisas com o mosquito Aedes aegypti no Insetário da UnB. Foto: André Gomes/Secom UnB

Segundo afirma a docente, no presente momento várias pesquisas se encontram muito adiantadas, no entanto carecem de investimento, e precisam de tempo para que a sociedade possa desfrutar delas. “Temos muitos resultados [de pesquisas] que estão por um triz para virar produto, mas precisam de financiamento. Antes de 2016, já estávamos trabalhando com o mosquito, e houve todo um trabalho de anos e muito investimento, com o Brasil inteiro envolvido no mesmo tema. Precisamos continuar. Temos um monte de resultados, mas não se faz um produto de um dia para o outro. Não tem dinheiro”, constata.

*Com informações da Secon UnB*

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