CAPS atuam com práticas integrativas para maior eficiência nos tratamentos de saúde mental

Por Ana Clara Mendonça, Davi Moisés e Laura Cunha
Agência de Notícias do CEUB/Jornal de Brasília

Na luta antimanicomial no Brasil, os centros de atenção psicossocial (CAPS) ocupam um protagonismo ao oferecer serviço gratuito de cuidado com a saúde mental. No Distrito Federal, práticas não convencionais, que os profissionais de saúde chamam de “integrativas”, podem até despertar a curiosidade de quem vê de fora ou é atendido nesse espaço de saúde.

Terapias que incluem capoeira, ioga, relaxamento, alongamento, auto massagem, caminhada, horta comunitária e medicinal, sarau e grupo de música, por exemplo, garantem profissionais de saúde, são como remédios e podem gerar resultados eficientes e surpreendentes.

Tratamento

A prática integrativa oferece um vasto campo de opções para o tratamento do paciente. “O profissional não pode oferecer para uma pessoa algo que não vá funcionar para ela. Precisa ter identificação com o tratamento. Temos um leque de atividades que propiciam ambientes muitos diversos para que a pessoa possa ser ajudada”, explica o gerente do CAPS do Paranoá, o psicólogo Ricardo de Oliveira.

O profissional explica que essas práticas são essenciais para o paciente aprender a lidar com as barreiras do dia a dia. “As atividades se resumem em partilhar vivências, sofrimentos e superações. São práticas que dão escuta para as pessoas que não a têm. Isso gera todo um processo de mudança no quadro do indivíduo”, salienta o gerente do CAPS no Paranoá.

Contra o “desespero”

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma em cada quatro pessoas no país sofrerá com algum transtorno mental ao longo da vida.

Para enfrentar a situação, novas condutas terapêuticas são pesquisadas e colocadas em prática em unidades diferenciadas como são os Centros de Assistência Psicossocial (CAPS). “As práticas integrativas salvam do desespero”, aponta a terapeuta ocupacional Maiara Ioris, que atuou 6 anos no CAPS de Samambaia.

Ela sublinha que a prática integrativa é de uma vivência e experiência de comunidade ancestral, do saber lidar com a vida. “É como se abraçasse a pessoa. Possibilita ver o ser humano de uma maneira ampla. A pessoa (deve ser vista) com ela própria, com o outro e sua relação com a natureza. As práticas são de uma ancestralidade, de conhecimento milenar. Elas existem há mais de 5000 anos, como a medicina tradicional chinesa. Elas trazem esse acolhimento.”, destaca a terapeuta ocupacional.

Maiara Ioris, 42, Terapeuta ocupacional. Trabalhou no CAPS por 14 anos. Foto acervo pessoal.

Recuperação

Como procedimentos terapêuticos, as práticas integrativas têm como propósito evitar danos à saúde, promoção e recuperação. Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferta 29 procedimentos à população de forma integral e gratuita.

Após a introdução do paciente no CAPS, são apresentadas as práticas para o usuário. O profissional sugere e o paciente opina, mas exige a intervenção do terapeuta com o que é necessário. “A ideia não é só fazer o que gosta, mas o que é preciso no momento”, reitera o gerente do CAPS do Paranoá.

“Pode ser uma atividade banal, mas para aquele sujeito que está ali é o único momento dele de saúde. É uma ocasião em que pode se expressar, adquirir conhecimento… é nessa hora que a ponta da linha é puxada e o paciente tem progresso. Ele se torna protagonista”, diz o gerente.

Ricardo de Oliveira, 45 anos, Gerente da Unidade do CAPS do Paranoá e psicólogo. Foto: acervo pessoal.

“O Paciente do CAPS não é um paciente e sim um usuário”

Ser protagonista, para o psicólogo, é ter o papel de opinar no que está fazendo efeito no tratamento, e no que está ajudando ou atrapalhando no processo terapêutico. “É partilhar das reações do tratamento e tentar aliar com os profissionais o que de fato é bom para o paciente, o que é proveitoso. O paciente não está lá passivamente, ele utiliza do CAPS”, comenta Ricardo.

As práticas têm essa dimensão física, biológica, afetiva, emocional, social e espiritual. Muitas vezes o efeito é imediato, como aponta a terapeuta ocupacional Maiara Ioris.

“A pessoa está super agitada, recebe um Reiki e fica tranquila. Ou alguém que está tendo uma crise de pânico, se for orientada a fazer uma automassagem fica calma. A melhora é imediata e quanto mais frequente for, melhor o efeito.”

Nesse sentido, os profissionais de saúde devem ouvir o paciente no dia a dia e, a partir disso, coversam sobre a melhor opção de tratamento. Os profissionais explicam que o determinante na conduta terapêutica são os sintomas.

“Os pacientes mais sintomáticos são mais elegíveis para alguns grupos de socialização, interação e expressão. Geralmente eles não se dão bem na terapia tradicional. Então são colocados em atividades como as de música, caminhada e futebol, onde eles podem canalizar os sinais clínicos e a perturbação mental que estão tendo naquele momento. Mas as atividades variam com o perfil de sintomas atual, não com o diagnóstico”, ressalta o gerente do CAPS.

“Por uma sociedade sem manicômios“

Campeonato de futebol entre seis CAPS diferentes. Foto: Acervo pessoal de Ricardo

Diferente dos dias atuais, as pessoas que sofriam com a saúde mental eram marginalizadas e dadas como um perigo para a sociedade. Por isso, elas eram excluídas do cotidiano da sociedade e internadas em manicômios.

A localização era afastada e estratégica para que os pacientes não tivessem voz. “Manicômio é igual a um lixão, ninguém pode ver. O lugar em que ficava era onde ninguém podia ouvir os gritos do paciente, nem vê-lo e nem sentir o cheiro dele. É no meio do mato”, destaca o psicólogo. 

O antigo modelo de hospícios gerou um movimento antimanicomial, por conta das graves violações ao direito fundamental à liberdade e à vivência em sociedade.

Devido às graves violações aos direitos de pessoas com transtornos mentais, surgiu o lema “por uma sociedade sem manicômios”, com a proposta de reorganizar os tratamentos psiquiátricos.

Através da reforma psiquiátrica e da assistência ao paciente, o movimento passou a ter o objetivo de reinserção social. Diante disso, surgiu o centro de atenção psicossocial.

Os frequentadores dos CAPS sabem que além de um centro de tratamento, é também um ambiente de convivência. As portas estão abertas, apesar de ter regras, pessoas de todas as faixas etárias ou classes sociais podem utilizar o serviço.

Placa escrito CAPS no sarau a favor da luta antimanicomial. Foto: Ana Clara Mendonça

“Aqui é um lugar de se vir, falar, se expressar, chorar, gritar as dores, mas não tem espaço para a violência. Tem que se desprender da ideia de que doença mental é violência. Às vezes, o medo é muito maior do que efetivamente o risco”, avalia o psicólogo Ricardo de Oliveira.

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