A campanha Cartão Vermelho para o Racismo, idealizada pela Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus-DF) em parceria com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), ganha pela primeira vez dimensão nacional, e será lançada neste sábado (21), no Estádio Olímpico do Pará – Mangueirão, em Belém, durante o tradicional clássico Re‑Pa (Remo x Paysandu), válido pela 13ª rodada da Série B do Campeonato Brasileiro.
Com o lema “Não é só falta grave, é cartão vermelho para o racismo”, a campanha já se consolidou em Brasília e agora alcança novos territórios, com o apoio do Ministério Público do Pará (MPPA), dos clubes e das torcidas locais. No Mangueirão, torcedores receberão cartões vermelhos simbólicos, enquanto os jogadores entrarão em campo com faixas contra o preconceito. O ponto alto será o minuto de protesto antes do apito inicial, com todos — torcida, atletas e arbitragem — erguendo seus cartões em um gesto coletivo de repúdio ao racismo.
“É uma alegria ver essa campanha ganhar novos estados e mais força institucional”, comemora a secretária de Justiça e Cidadania, Marcela Passamani. “Com o apoio do Ministério Público do Pará, damos mais um passo firme no enfrentamento ao racismo e reafirmamos nosso compromisso com uma sociedade mais justa e igualitária dentro e fora dos estádios.”
Letramento racial e formação cidadã
Além da manifestação simbólica nos estádios, a campanha aposta na formação continuada para enfrentar o racismo estrutural de forma efetiva. A iniciativa inclui uma plataforma online de letramento racial, voltada para capacitar jogadores, comissões técnicas, árbitros, dirigentes, promotores e demais profissionais envolvidos com o futebol.
“A campanha une impacto simbólico e formação cidadã”, resume o subsecretário de Políticas de Direitos Humanos e de Igualdade Racial da Sejus-DF, Juvenal Araújo, que representará a secretária Marcela Passamani no lançamento em Belém. “O letramento racial é uma das ações mais importantes para transformar a cultura esportiva, qualificando quem atua nos bastidores e nas estruturas institucionais.”
A articulação para levar a campanha ao Pará nasceu no início deste mês, durante reunião da Sejus-DF no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), quando a proposta foi apresentada pela titular da pasta e recebeu adesão unânime. Representando o Pará, o promotor de Justiça Eduardo Falesi acolheu a iniciativa e articulou sua realização no clássico Re-Pa.
“O futebol tem um poder enorme de mobilização social, e o Ministério Público tem um papel essencial na promoção de políticas públicas que enfrentem o racismo com seriedade”, reforça Falesi. “Essa parceria com a Sejus-DF é o início de um trabalho que queremos expandir.”
Contexto e urgência
A expansão da campanha para o Pará também se conecta com episódios recentes de racismo registrados no estado, como o caso de injúria racial sofrida pelo jogador Sávio, do Remo, e o episódio com uma funcionária do Mangueirão, ambos amplamente repercutidos. Dados do Observatório da Discriminação Racial no Futebol mostram que os casos de racismo nos estádios cresceram 444% entre 2014 e 2023, chegando a 136 registros — e que 41% dos atletas negros já foram vítimas de discriminação no ambiente esportivo.
A expectativa é que a campanha se expanda para outros estados ainda neste ano, com apoio de federações estaduais, Ministério Público e clubes de futebol, ampliando seu alcance ao longo da Série B e em outras competições nacionais.
A campanha e as ações
O Cartão Vermelho para o Racismo integra a Política Distrital de Prevenção e Combate ao Racismo nos Estádios, instituída pela lei nº 22.084/2024, conhecida como Lei Vinícius Júnior, sancionada pelo Governo do Distrito Federal (GDF). A campanha tem o objetivo de conscientizar e engajar torcedores, atletas e instituições no combate ao racismo e à intolerância nos ambientes esportivos.
Desde maio, a campanha marcou presença em três jogos da CBF na Arena BRB Mané Garrincha: Vasco x Palmeiras (4/5), Aparecidense x Fluminense (11/5) e Capital x Botafogo (17/5), todos válidos pela CBF, com apoio da Federação Brasiliense de Futebol (FBF). Em cada um desses eventos, a exibição de cartões vermelhos e faixas no gramado mobilizou torcedores e atletas para a causa.
Mais recentemente, na quinta-feira (19), em parceria com a Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF), a campanha foi levada às finais do Campeonato Candango Sub-11 e Sub-13, envolvendo crianças e adolescentes numa ação educativa desde a base.