ALEXANDRE ARAUJO
UOL/FOLHAPRESS
A “Sou do Esporte”, associação sem fins lucrativos, divulgou, na manhã desta quinta-feira (26) (26), um relatório nacional da economia do esporte. O estudo, que utilizou dados de 2023, apontou que a indústria do segmento movimentou R$ 183,4 bilhões, o equivalente a 1,69% do PIB nacional.
A apresentação foi feita em evento realizado na sede do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e acontece em meio à luta do setor por uma Lei do Esporte perene -um ofício que trata o tema, assinado por atletas, ex-atletas, técnicos e entidades, foi enviado ao presidente Lula e outras autoridades no começo da semana.
“Temos uma Lei de Incentivo ao Esporte que tem de ser renovada a cada dois anos. A Lei de Incentivo à Cultura é perene, não passa por algum tipo de análise, simplesmente existe. Além disso, tem a Lei Paulo Gustavo. Olha como a cultura consegue mobilizar o legislativo. Aí você pensa: ‘o que está acontecendo com o esporte?’, temos esse resultado. Vimos que o PIB do esporte é maior que o da cultura, 1,69% contra 1,55%. Já começa a, digamos, desmanchar a narrativa de que o esporte é despesa”, disse Fabiana Bentes, presidente da Sou do Esporte, ao UOL.
“É uma economia que gira muito dinheiro. nesta quinta-feira (26), o esporte brasileiro é tratado de forma marginalizada porque nós não temos números. Nossa dificuldade era apresentar que o investimento no esporte vale a pena. A defesa era sempre com a inclusão social. Mas um atleta não caiu do céu do projeto social para uma faixa preta no judô, por exemplo. Existiu investimento para poder impulsioná-lo. Essa percepção, o Brasil não tem. Os Estados Unidos tem, a China tem, a Austrália tem, a França tem, mas o Brasil fica patinando”, completou.
Ainda segundo o estudo, a cada R$1,00 de investimento privado se consegue gerar mais de R$23 de atividade econômica; ou R$12,8 para cada R$1,00 de recurso público investido. O documento aponta para a geração de 3,3 milhões de empregos formais.
“Lembro quando surgiu a ideia, eu ainda como vice-presidente do COB. Acompanhei, desde o início, o processo de construção [do PIB do Esporte]. É importante entendermos o tamanho do impacto do nosso esporte no PIB, um dado tão importante em um momento que vamos ao Congresso com pautas que são essenciais para o esporte, mas precisávamos de dados, mostrar que o esporte é profissonal”, afirma Marco la Porta, presidente do COB.
A Sou do Esporte aponta ainda que o PIB pode ser ainda maior. As casas de apostas, por exemplo, não entraram no levantamento atual por ter sido um setor regulamentado apenas em 2024.
As bet’s só estão dentro do estudo dos balanços dos clubes porque ali é um registro oficial de entrada e receita. Mas quanto elas geram só vamos começar a saber a partir do ano que vem, relativa a 2025, porque é quando você oficializa essas bet’s e começa a ter que gerar os números, que é sempre a nossa questão.
Além disso, não foram contabilizados o turismo esportivo, eventos como corridas de rua e torneios regionais de modalidades olímpicas e não-olímpicas, ensinos em escolas, desporto militar – os dados da Comissão Desportiva Militar do Brasil (CDMB) não foram disponibilizados. No eSports, apenas as vendas do “Fifa Soccer” entraram no cálculo. O estudo não contempla eventos, vendas de outros jogos, skins, equipes de competição.
O levantamento mostra que R$ 8,81 milhões foi o PIB dos clubes, o que representa 4,41% do PIB do Esporte de 2023. No caso das confederações, o valor foi de R$ 923 milhões, 0,50% do PIB.
O documento mostra que a etapa de 2023 do circuito mundial de surfe, em Saquarema, Rio de Janeiro, gerou R$ 239 milhões para o país e o torneio de tênis Rio Open, R$ 136 milhões para o Rio. “Na Lei Rouanet, uma organização do terceiro setor ou a Daniela Mercury podem captar [recursos]. Na Lei de Incentivo ao Esporte, o Rio Open e a WSL, por exemplo, não podem captar. Só o terceiro setor pode. Mas a relevância desses eventos são enormes, por que o proponente privado não pode ter acesso? Isso traz competições internacionais”.
Denstre as propostas da Sou do Esporte está a regulamentação do Plano Nacional do Desporto (PND) e orientação para que os investimentos públicos sigam as diretrizes das emendas parlamentares. “Está parado no Senado. Não foi aprovado, não deu andamento, nada. É outra coisa que vamos lutar.
Precisamos que esse seja aprovado, que as secretarias cumpram, porque [o recurso] chega lá ao secretário de Esporte da cidade X, que nunca foi do ramo, mas ele precisa cumprir as diretrizes”, afirmou Fabiana Bentes.