Por Camila Coimbra
O Distrito Federal registrou uma intensa movimentação de visitantes em seus seis cemitérios neste Dia de Finados. A estimativa da organização é de que cerca de 600 mil pessoas passem pelos locais ao longo do feriado. O principal ponto de visitação, o Campo da Esperança, na Asa Sul, foi palco de um grande fluxo de pessoas desde as primeiras horas do dia, em um clima de respeito e forte emoção.
Famílias e amigos, ou mesmo visitantes sozinhos, dirigiram-se aos túmulos para prestar homenagens, depositar flores, acender velas e realizar orações. O movimento foi intenso tanto dentro quanto ao redor do cemitério, mas o trânsito fluiu de maneira tranquila, sem congestionamentos nas vias de acesso.
Ato de Respeito e Lembrança
A visita aos entes queridos é um ato de manutenção da memória para muitos brasilienses. Fernando Ferreira, de 51 anos, morador do Recanto das Emas, manteve o hábito de visitar os túmulos de familiares falecidos. “Quando tenho disponibilidade, eu venho. Acho importante manter a sepultura limpa, porque o ente querido partiu, mas você não vai abandonar. É uma forma de respeito”, afirmou o vigilante, enquanto levava flores ao Campo da Esperança.
Filho de religião de matriz africana, ele ainda explicou a presença de sua guia no pescoço: “Sou umbandista, e a guia é um amuleto de proteção. Aqui tem muitas almas, tanto de benfeitores quanto de espíritos ainda carentes, que não encontraram a luz. Então, a gente vem preparado espiritualmente”, disse, reforçando que o cuidado com as sepulturas é um ato de respeito e continuidade do vínculo com os antepassados.
Fernando, que visitava o túmulo de um tio, uma tia e um irmão, lamentou, no entanto, o que observou em algumas áreas. “A gente chega e vê várias sepulturas vandalizadas, muitas abandonadas pelos familiares. Acho que manter a limpeza é uma forma de reverência a quem já partiu”, comentou.
A ida ao cemitério também serve como um momento de reflexão e busca pela paz. Ricardo Sanchez, de 46 anos, morador do Guará, visitava o túmulo da mãe e da irmã. “Eu venho sempre. Muitas vezes, quando tenho algum problema ou quero um pouco de paz, passo cinco minutos sentado aqui. É um momento de silêncio e reflexão”, contou. Ele se surpreendeu com a tranquilidade do acesso: “Achei fácil de chegar, não teve engarrafamento nem confusão. Vi uma ou duas viaturas por aqui, mas tudo muito calmo.”
Ricardo Sanchez chamou atenção para a variação de preços das flores de um supermercado ao lado do cemitério. “Essas flores que normalmente custam R$ 10 ou R$ 20 hoje estão R$ 40 no mercado aqui perto. O pacote de fósforo no supermercado custa R$ 9, e aqui, ao lado do cemitério, está R$ 1 pela venda do pessoal que fica na barraca Dá pra ver como o comércio local se ajusta à movimentação do dia”, observou.
No Campo da Esperança, na Asa Sul, o padre Raimundo, assessor eclesiástico da Paróquia da Esperança, acompanhou de perto a intensa programação religiosa. O sacerdote explicou que, ao longo do dia, centenas de fiéis participaram das celebrações em homenagem aos entes queridos nos seis cemitérios da Arquidiocese de Brasília. “Dentre os cemitérios da Arquidiocese, apenas um não tem sete missas. Em Brazlândia, por exemplo, são cinco. Nos demais, as celebrações se estendem até às cinco da tarde”, detalhou.
A celebração do meio-dia, uma das mais aguardadas, foi presidida pelo cardeal Dom Paulo César, arcebispo de Brasília, e transmitida em rede nacional pela TV Canção Nova. Padre Raimundo reforçou o sentido da data para a fé católica: “Participar da Eucaristia é estar com Cristo, aquele que nos incentiva a buscar a vida eterna. Rezar pelos entes queridos é pedir que eles alcancem o Reino dos Céus”. Ele lembrou que os fiéis podem receber indulgências plenárias se estiverem em estado de graça e realizarem as orações recomendadas: “É importante vir de coração aberto, confessar-se, rezar diante de um túmulo, fazer um Pai-Nosso e três Ave-Marias. Assim, é possível alcançar essa graça muito grande para aqueles que já partiram”.
Comércio
Ao redor do cemitério, o Dia de Finados se consolidou como a data mais lucrativa para o comércio local. A florista Poliana Rezende, de 38 anos, que comanda uma barraca tradicional com o marido, Eduardo Domingos, confirmou o impacto financeiro.
“Finados é sempre esperado. É o dia em que a gente vende mais, praticamente 100% a mais do que nos outros meses do ano”, explicou a moradora do Paranoá. A diferença é notável no volume de estoque: “Durante o mês, compramos em torno de 60 a 80 vasos de flores. Mas, para o Dia de Finados, são de 300 a 350 vasos, que a gente vende em três ou quatro dias.”
Para garantir a transparência dos serviços, a Secretaria de Justiça e Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF) montou uma tenda para atender e orientar a população. Gilce Santana, subsecretária de Assuntos Funerários da Sejus, explicou o objetivo da ação. “Como a Sejus também é responsável pela fiscalização das funerárias e dos cemitérios, estamos aqui para orientar a população sobre os procedimentos, divulgar informações e esclarecer direitos”, disse a subsecretária.
No local, a equipe distribuiu cartilhas com as principais dúvidas e uma tabela de preços oficial, que muita gente desconhece, para evitar abusos. A tenda também ofereceu o serviço de ouvidoria e contou com uma equipe psicossocial para acolher visitantes em processo de luto. “É um momento delicado. Ter alguém preparado para ouvir e oferecer conforto faz diferença para quem vem visitar os entes queridos”, concluiu Gilce Santana.


