Mortes de motociclistas crescem no DF e já somam 68 neste ano

Carliane Gomes
redacao@grupojbr.com

O número de motociclistas mortos em acidentes de trânsito aumentou no Distrito Federal neste ano. De janeiro a agosto, foram registradas 68 mortes, contra 52 no mesmo período de 2024, segundo dados do Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF). No total, o ano passado terminou com 74 vítimas fatais, enquanto em 2023 foram 69.

De acordo com o Detran, entre os principais fatores de risco identificados estão a perda do controle da direção, o excesso de velocidade, a proximidade indevida de outros veículos e o consumo de álcool. Além disso, comportamentos que contribuem para os acidentes incluem a circulação na contramão, a permanência em pontos cegos, o uso incorreto do capacete e a falta de visibilidade. “É importante ressaltar que a perda do controle da direção ocorre, com frequência, em razão do excesso de velocidade e da falta de experiência do motociclista, que pode ser recém-habilitado ou, em alguns casos, não possuir habilitação”, pontuou o departamento. 

A técnica em saúde bucal e acadêmica de enfermagem Vanessa Bastos, de 26 anos, também faz parte das estatísticas de acidentes envolvendo motociclistas no Distrito Federal. Moradora de Vicente Pires, ela se envolveu em um acidente há cerca de cinco anos, quando morava em Sobradinho. “Eu estava perto do balão da Granja do Torto, quando um carro bateu em mim e eu fui para o chão. Achei que depois desse acidente nunca mais iria querer subir em uma moto, mas não foi o que aconteceu. Eu não largo minha moto por nada”, contou.

personagem vanessa
personagem vanessa

Apesar do susto, Vanessa teve apenas ferimentos leves. “Machucou um pouco o meu pé, pegou uma veia, mas foi mais um ralado. Eu estava protegida, de certa forma. Hoje eu sempre ando com jaqueta, calça e bota, nunca uso chinelo para pilotar”, relatou. Para ela, os acidentes com motociclistas envolvem responsabilidade dos dois lados. “Tem motoqueiro que anda bem louco mesmo, mas também tem muito carro que não respeita. Não posso culpar só um lado. Vejo muita gente mexendo no celular enquanto dirige, e também um motociclista que acha que é dono da pista. Se esses erros fossem minimizados, acho que o número de acidentes diminuiria bastante”, avaliou.

Vanessa acredita que mais campanhas de conscientização e melhor preparo nas autoescolas poderiam contribuir para reduzir os acidentes. “Quando a gente tira a CNH, Carteira Nacional de Habilitação, principalmente a de moto, não aprende quase nada. Na autoescola de carro é até válida, mas na de moto a gente sai sem saber nem passar uma marcha. A gente aprende na prática, na rua mesmo”, criticou.

O entregador Guilherme Henrique, de 23 anos, morador de Luziânia (GO), também conhece de perto os riscos de quem anda sobre duas rodas. Ele sofreu um acidente em agosto do ano passado, quando ainda não trabalhava com entregas. “Eu estava dirigindo pelo lado de Luziânia,  o carro foi mudar de faixa e me jogou fora da pista. Quebrei o braço, precisei de 30 pontos no braço e 50 no joelho”, relembrou. Após o acidente, Guilherme entrou na Justiça para tentar ser indenizado, mas, segundo ele, o processo não teve resultado. “Paguei advogado, mas até hoje não deu nada. Só um transtorno mesmo”, contou.

personagem guilherme
personagem guilherme

Mesmo após o susto e o tempo de recuperação, ele não abandonou as motos. “Fiquei com medo, claro, mas é difícil parar de andar de moto, principalmente para mim. Graças a Deus, não fiquei com sequela nenhuma. Fiz fisioterapia e deu tudo certo”, disse. Atualmente, Guilherme trabalha como entregador por aplicativo e usa a motocicleta diariamente. Para ele, o uso do celular ao volante é uma das principais causas dos acidentes. “Acho que acontece principalmente devido a imprudência dos motoristas de carro. Muita gente fica distraída com o celular, não dá seta, muda de faixa sem olhar. Falta atenção no trânsito”, afirmou.

O pintor Benésio Nascimento, de 36 anos, morador do Jardim Ingá, em Luziânia (GO), acumula uma longa experiência sobre duas rodas, e também uma lista de acidentes. “Por baixo, já sofri uns 25 acidentes”, contou. Ele pilota desde os 18 anos de idade e, mesmo depois de tantas quedas, afirma continuar apaixonado por motos. Entre os episódios mais recentes, Benésio relembra de um tombo perto do aeroporto de Brasília, quando perdeu o controle da motocicleta em uma curva. “Arranhou a lateral todinha da moto”, disse. Em outro acidente, para evitar bater em um carro que parou de repente, jogou a moto para o acostamento e acabou caindo. “O acostamento estava cheio de ondulação. Eu pilotava entre 100 e 110 por hora e perdi o controle. Machuquei o braço, arranhei a perna, cortei a mão, o braço inchou muito. Fiquei uma semana de molho”, relatou.

Apesar dos ferimentos, o medo nunca foi suficiente para fazê-lo deixar de pilotar. “Quanto mais eu caio, mais potência quero”, brincou. Depois da última queda, ele trocou a antiga moto de 150 cilindradas por uma 250 e já planeja subir para uma 300. “Moto é para quem gosta. Se uma pessoa deseja comprar uma moto para economizar combustível, é melhor não comprar, porque a chance de ver São Pedro é grande. Eu já quebrei a moto todinha e no outro dia estava arrumando para andar de novo”, disse, entre risos.

Para Benésio, a falta de respeito dos motoristas é um dos principais riscos enfrentados por quem anda de moto. “O pessoal de carro não respeita muito a moto. Quando percebe que é carro, eles esperam para ultrapassar,  mas quando é moto, eles simplesmente aceleram. A moto não tem o mesmo tempo de reação que o carro”, explicou. Ele reconhece, no entanto, que há imprudência de ambos os lados. “Queria pedir para os motoristas andarem mais devagar e usarem a seta, pelo amor de Deus. Essa danada dessa seta é para ser usada, mas muita gente esquece”, finalizou.

Cuidados e prevenção 

Segundo o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), os principais fatores que agravam a gravidade dos acidentes envolvendo motocicletas incluem o uso inadequado ou a ausência de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como jaquetas com proteções, luvas, calças específicas e calçados fechados sem cadarços expostos. A manutenção deficiente das motocicletas também é uma causa recorrente, com registros de pneus desgastados, sistemas de freio comprometidos e iluminação ineficiente. “A velocidade incompatível com as condições da via, o uso do celular durante a pilotagem e a condução sob efeito de álcool ou substâncias psicoativas estão entre os fatores que mais contribuem para a ocorrência e gravidade dos acidentes”, destacou o CBMDF. 

A corporação ainda chama atenção para as condições climáticas adversas, como chuva e pista escorregadia, e para a falta de percepção de risco, que leva muitos motociclistas a realizarem manobras arriscadas. Além disso, outro ponto observado pelos bombeiros é o excesso de confiança de condutores experientes, que acabam relaxando nas medidas de segurança. “Muitos motociclistas deixam de adotar práticas preventivas por se julgarem plenamente capazes de reagir”, informou a corporação.

Como forma de prevenção, o CBMDF orienta que os condutores realizem manutenção preventiva e inspeção diária da motocicleta, participem de cursos de direção defensiva e utilizem corretamente todos os EPIs certificados. “É importante que os motoristas usem capacete com viseira fechada e afivelado, jaqueta, luvas, calça própria para motociclistas e calçado adequado”, destacou. A corporação reforça ainda a importância de adequar a velocidade ao fluxo da via, manter distância segura de outros veículos, evitar distrações, nunca pilotar sob efeito de álcool ou drogas e adotar postura defensiva no trânsito. “É fundamental respeitar sempre as regras de trânsito, o limite de velocidade e utilizar os equipamentos de proteção. A motocicleta é o veículo mais vulnerável e requer atenção redobrada”, concluiu o CBMDF.

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