O setor de bares e restaurantes do Distrito Federal vive um novo momento. Após enfrentar os impactos prolongados da pandemia, o segmento começa a consolidar sua recuperação, registrando, em agosto, o menor índice de empresas operando em prejuízo desde 2020. É o que revela a Pesquisa Abrasel DF, realizada em setembro deste ano com empresários da capital.
De acordo com o levantamento, 47% das empresas operaram com lucro em agosto, enquanto 36% ficaram estáveis e apenas 14% registraram perdas — o menor patamar em cinco anos. Além disso, 48% dos empreendimentos aumentaram o faturamento em relação a julho, sinalizando uma tendência de retomada. A pesquisa também aponta que 56% dos empresários conseguiram reajustar preços dentro ou abaixo da inflação dos últimos 12 meses, em um esforço para manter competitividade e evitar perda de clientela.
Apesar do otimismo, os desafios ainda são significativos. Quatro em cada dez empresas possuem dívidas em atraso, principalmente de natureza tributária: 66% relacionadas a impostos federais, 53% a impostos estaduais e 40% a serviços públicos, como energia, água e gás. Para o presidente da Abrasel-DF, Beto Pinheiro, os números comprovam que o setor respira melhor, mas ainda exige atenção.
“Ver quase metade das empresas operando no azul é um sinal claro de retomada da confiança e da força do empreendedor brasiliense. Mas não podemos ignorar o peso das dívidas e o custo elevado dos serviços. Precisamos de políticas públicas que apoiem esse movimento de recuperação, gerando emprego, renda e qualidade de vida para toda a sociedade”, afirma.
Com cerca de 40 mil postos de trabalho diretos e indiretos, o setor de alimentação fora do lar é um dos pilares da economia brasiliense, movimentando gastronomia, turismo e geração de renda nas regiões administrativas. Para entender como essa recuperação tem se refletido na prática, o Jornal de Brasília ouviu empresários que vivem o dia a dia dos estabelecimentos.
A empresária Aline Roberta Silva, 41 anos, proprietária do Encontro à Mineira Bar e Mercearia, conta que o movimento de clientes cresceu nos últimos meses, garantindo lucro e estabilidade. “Teve uma melhora, eu senti tanto no movimento quanto nas vendas”, relata. Mesmo com o cenário favorável, ela precisou reajustar os preços do cardápio duas vezes neste ano. “Fiz os aumentos para acompanhar os custos, mas o aluguel continua sendo o que mais pesa. Brasília tem um custo muito alto”, comenta.
Aline afirma não ter dívidas e vê o futuro com otimismo. O delivery, segundo ela, segue como um complemento, mas o foco está no atendimento presencial. “As pessoas gostam de vir aqui. Colocar receitas novas, criar pratos diferentes e ter música de vez em quando ajuda a trazer mais gente”, diz.
No mesmo ritmo de recuperação está o administrador Wesley Moreira da Silva, 39 anos, que comanda o tradicional Don Romano, cantina italiana fundada em 1988. O restaurante registrou lucro nos últimos três meses e vem observando aumento gradual no número de clientes. “O segundo trimestre costuma marcar um volume maior, talvez pelo alívio de gastos como IPTU e IPVA, que comprometem a renda familiar nos primeiros meses do ano”, explica.
Wesley afirma que os reajustes no cardápio foram feitos com cautela para não afastar o público. “Não dá para repassar integralmente o aumento de custos. Optamos por uma estratégia mais justa, com reajustes mínimos, buscando compensar no volume de vendas e na fidelização de novos consumidores”, relata.
O empresário destaca que os insumos derivados de laticínios continuam entre os mais caros, com aumento superior a 30% em dois anos. Ainda assim, o restaurante conseguiu manter as contas equilibradas. “Mesmo com custos elevados, conseguimos manter tudo em dia”, garante.
Embora o delivery tenha se consolidado como uma alternativa, Wesley reforça que a essência do restaurante continua sendo a experiência no salão. “O delivery é uma comodidade, mas não substitui o propósito de um restaurante, que é restaurar o dia do cliente, proporcionar um bom jantar ou um momento especial com amigos e familiares”, afirma.
Ele também aponta a contratação de mão de obra como um dos principais desafios do setor no momento. “Estamos contratando em vários setores — de serviços gerais a cozinha e atendimento. Há espaço tanto para quem busca o primeiro emprego quanto para profissionais experientes”, observa.
Para Wesley, o fortalecimento do segmento também depende do trabalho das entidades de classe. “A Abrasel-DF tem feito um papel importante, com cursos, capacitações e trocas de experiência entre empresários. Isso faz diferença porque é conduzido por quem vive os mesmos desafios que nós”, completa.
Com empresários mais confiantes e consumidores voltando a ocupar os restaurantes, o setor de alimentação fora do lar reafirma seu papel como motor da economia do DF.