Por Daniel Xavier
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Mesmo com a campanha de vacinação contra a gripe em curso no Distrito Federal e mais de 594 mil doses aplicadas desde janeiro, a adesão entre gestantes segue alarmantemente baixa. Até o último dia 22 de junho, apenas 1.403 grávidas haviam se vacinado — o que representa uma cobertura de 5,3% entre esse grupo prioritário. A meta da Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) é atingir 90%.
A baixa procura preocupa especialistas, já que a gripe, especialmente provocada por vírus como H1N1 e H3N2, pode levar a complicações severas em grávidas, incluindo pneumonia, insuficiência cardiorrespiratória, parto prematuro e até óbito materno ou fetal. “A vacina contra a influenza é segura para ser administrada em gestantes e puérperas, apresentando poucos efeitos colaterais, como dor leve no braço e febre baixa, que desaparecem em um ou dois dias”, explica Tereza Luiza Pereira, gerente da Rede de Frio Central da SES-DF. A imunização pode ser feita em qualquer fase da gravidez ou até 45 dias após o parto.
Segundo dados da Codeplan, o DF tem hoje cerca de 26,6 mil gestantes. No ano passado, a campanha de vacinação conseguiu alcançar pouco mais da metade desse público, com 15.315 doses aplicadas, atingindo uma cobertura de 56,84%. Em 2025, os números estão bem abaixo do esperado.
“Perder mãe e bebê por gripe é inadmissível”

A infectologista e epidemiologista Luana Araújo reforça que a vacina contra a gripe é uma das principais ferramentas para reduzir a pressão sobre o sistema de saúde e evitar mortes evitáveis. “A influenza ainda vitima muitas pessoas no Brasil. E entre os grupos mais vulneráveis, como grávidas, a chance de complicações graves e hospitalizações é maior”, alerta.
Para ela, o risco é especialmente elevado porque o sistema imunológico da gestante passa por alterações naturais para proteger o bebê em desenvolvimento — o que acaba deixando a mulher mais suscetível a infecções severas. “O corpo precisa ‘aceitar’ esse novo ser com uma genética diferente. Para isso, a imunidade da mulher se enfraquece, o que torna a gestante mais vulnerável a doenças infecciosas. A gripe, nesses casos, pode evoluir muito mal”, explica.
Luana destaca que, além de proteger a gestante, a vacina ainda favorece o bebê. “Ela ajuda a manter o ambiente intrauterino saudável e, em muitos casos, gera anticorpos que protegerão o recém-nascido nos primeiros meses de vida. A ausência da vacinação coloca mãe e filho em risco desnecessário.”
Exemplo de cuidado

Mesmo com as dúvidas de muitas mulheres, algumas grávidas optam pela imunização como um ato de proteção. É o caso de Sandra Karolayny Pereira de Sousa, 27 anos, moradora da Vila Planalto e grávida de 11 semanas. “Essa vacina tem grande importância pra mim e pro meu bebê, que vai vir ao mundo. Quero ele com muita saúde. Sempre tomei a vacina da gripe e gosto de manter a caderneta atualizada”, contou. “Depois que tomei, só senti dor no braço, mas logo passou. É melhor estar protegida”, afirma.
Para Luana Araújo, convencer as gestantes a se vacinarem exige mais do que argumentos técnicos. “Estamos em um cenário de desinformação e fake news. É preciso que os médicos tenham paciência e escutem as dúvidas das mães, explicando com clareza e empatia. A vacina é um gesto de cuidado, de compromisso com a vida”, defende.
A médica lembra ainda que o Brasil registrou, nos últimos anos, mortes evitáveis entre gestantes e crianças por doenças para as quais já existiam vacinas. “A Covid é um exemplo recente. Perdemos muitas mães por falta de vacinação oportuna. E neste ano, 2025, também tivemos perdas graves para a influenza. Isso é inadmissível.”
A vacinação contra a gripe no DF continua disponível nas unidades básicas de saúde. Para receber a dose, gestantes devem apresentar documento com comprovação da gestação ou do período pós-parto. A campanha segue enquanto durarem os estoques.