1º de julho, o Brasil comemora hoje o Dia da Vacina BCG. E, se você parar para observar, talvez perceba que carrega no braço esquerdo uma pequena lembrança da sua primeira batalha vencida. A cicatriz deixada pelo imunizante é, para muitos brasileiros, o símbolo da proteção que começa ainda no berço. Desenvolvida há quase cinco séculos e aplicada rotineiramente em recém-nascidos, a BCG é um marco da saúde pública: prevenir formas graves de tuberculose e continua sendo uma das vacinas com maior cobertura no país — especialmente no Distrito Federal.
Nesta terça-feira, a vacina BCG completa 47 anos de inclusão no Calendário Nacional de Vacinação. Desde 1978, o imunizante é aplicado de forma obrigatória em crianças como parte das ações do Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde, para a prevenção da tuberculose e a proteção da saúde infantil. Além de proteger contra as formas mais graves da doença, estudos indicam que a BCG também pode contribuir para o fortalecimento do sistema imunológico da criança.
Cobertura vacinal no DF ultrapassa 100%

A vacina é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e, geralmente, aplicada ainda na maternidade ou nos postos de saúde, logo após o nascimento. A recomendação do Ministério da Saúde é que a aplicação ocorra o mais precocemente possível, preferencialmente até os 30 dias de vida, mas ela pode ser administrada em crianças de até 4 anos, 11 meses e 29 dias que ainda não tenham sido vacinadas.
Em 2024, a cobertura vacinal da BCG atingiu 95,9% no Brasil — um índice bem acima da média registrada em anos anteriores, que era de cerca de 87%. No Distrito Federal, o desempenho foi ainda melhor: 102,06% de cobertura, superando a meta do PNI, que é vacinar ao menos 90% do público-alvo. Para garantir a imunização da população infantil, o Ministério da Saúde distribui, mensalmente, cerca de 1,5 milhão de doses da BCG em todo o país. Somente em 2025, mais de 80 mil doses já foram enviadas ao Distrito Federal.
Entre os milhares de brasilienses imunizados está o pequeno José Soares Durães Cintra, filho da assistente técnico-administrativa Ana Emanuelly Soares Ximenes, de 24 anos. “Levei o José para vacinar com seis dias de vida, e já sabia da importância da BCG. É uma proteção essencial para os primeiros dias de vida. A marquinha é só um detalhe, o mais importante é a saúde dele”, afirma Ana, que mora no Guará e recebeu atendimento na UBS 2 do Guará II.
Segundo ela, o momento da vacinação foi especial. “Os profissionais foram atenciosos e explicaram que poderia haver febre ou dor, mas ele não teve nenhuma reação. Fiquei aliviada. A gente sempre ouve histórias de mães, mas viver esse cuidado é diferente. Vacinar é um ato de amor e responsabilidade”, completa.
Ela também valoriza o acesso gratuito à imunização. “O SUS oferece tudo isso sem custo. Já paguei vacinas particulares também, mas considero um privilégio poder contar com o sistema público. Toda proteção vale a pena”, celebra.
A autônoma Débora Oliveira Ferreira, 25 anos, moradora de Samambaia Norte, também guarda boas lembranças da primeira vacina do filho Murilo, de sete meses. “Ele tomou a BCG entre 10 e 15 dias de vida. Eu sabia da cicatriz que fica, mas não conhecia todos os detalhes da proteção. Fui pesquisar mais, e entendi o quanto ela é essencial contra a tuberculose”, relata.
Débora destaca o sentimento de segurança ao completar esse primeiro passo do calendário vacinal. “Vacinar é garantir o bem-estar do nosso filho. É o tipo de cuidado que a gente faz com consciência e orgulho. É muito bom saber que temos acesso a isso desde o nascimento deles”, diz.
Mesmo diante de alguns obstáculos no processo, como agenda de vacinação e horários específicos, ela encara com otimismo a responsabilidade de manter tudo em dia. “Hoje em dia, com tanta coisa acontecendo, toda proteção conta. A gente precisa aproveitar cada recurso que a ciência nos dá”, afirma.
Ciência, história e justiça social
O historiador Danilo Félix, de 32 anos, reforça a importância social da BCG. Morador de Samambaia e professor no Colégio IESB, ele explica que a vacina é fruto de um momento marcante do avanço científico global. “Ela foi desenvolvida por dois cientistas franceses, Albert Calmette e Camille Guérin, em 1921. A BCG representa um esforço de mais de uma década de pesquisa, e tornou-se fundamental no combate à tuberculose, que era vista historicamente como uma doença associada à pobreza e à exclusão social”, afirma.
A vacina chegou ao Brasil em 1925 e, desde sua inclusão no PNI em 1978, passou a ser obrigatória para crianças com mais de 2 kg, preferencialmente nas primeiras 12 horas de vida. “A BCG é um exemplo de como a ciência pode salvar vidas e reduzir desigualdades. Se fosse paga, muitas famílias não teriam acesso. Ela ajudou a diminuir a mortalidade infantil, principalmente nas camadas mais vulneráveis da população”, avalia.
Danilo também comenta a simbologia da cicatriz deixada pela vacina. “Virou uma marca da imunização. Muitas pessoas achavam que só estava protegido quem tinha a marquinha. Mas o Ministério da Saúde já explicou que isso não é necessário para a eficácia. Ainda assim, essa pequena cicatriz se tornou um emblema da saúde pública brasileira.”
De acordo com os dados mais recentes da Secretaria de Saúde, todas as Regiões Administrativas do DF atingiram ou superaram 99% de cobertura vacinal com a BCG em 2024. Em áreas como o Paranoá e o Plano Piloto, os índices ultrapassaram os 200%, resultado da vacinação de recém-nascidos de outras localidades nas maternidades brasilienses.
Para milhares de mães, como Ana e Débora, essa vacina representa o primeiro passo de uma longa jornada de cuidado. E, para a história da saúde pública brasileira, é a lembrança de que a ciência, quando aliada à política pública, pode transformar vidas.
A BCG continua sendo uma das principais aliadas na proteção da infância brasileira. Produzida a partir de uma forma enfraquecida da bactéria causadora da tuberculose, a vacina previne as formas mais graves da doença, como a meningite e a miliar, e é indicada para aplicação única logo após o nascimento — preferencialmente nas primeiras horas de vida. Disponível gratuitamente pelo SUS, é ofertada a todas as crianças menores de cinco anos nos postos de saúde e maternidades do país.
Entre as reações mais comuns está a formação de uma pequena cicatriz no braço direito, com até um centímetro de diâmetro. O processo costuma envolver uma mancha avermelhada, seguida de uma pequena ferida que cicatriza naturalmente. Em alguns casos, podem surgir gânglios ou abscessos — eventos esperados em cerca de 10% dos vacinados —, e que, quando agravados, devem ser monitorados pelas equipes de saúde.
O Ministério da Saúde reforça que não há necessidade de cuidados específicos antes ou depois da aplicação, e que a cicatrização ocorre sem a necessidade de curativos ou medicamentos. Desde 2019, inclusive, a vacinação de crianças sem cicatriz deixou de ser recomendada, pois a eficácia do imunizante independe da marca visível. Prematuros com menos de 2 quilos, no entanto, não devem receber a dose.
Para garantir a segurança, a vacina, após reconstituída, deve ser utilizada no prazo máximo de seis horas e armazenada entre 2°C e 8°C. Detalhes técnicos que sustentam uma ação simples, mas capaz de salvar milhões de vidas — e que segue, há quase meio século, como uma das mais potentes expressões da saúde pública brasileira.
Saiba mais
A vacina BCG está disponível gratuitamente nas Unidades Básicas de Saúde do DF. A seguir, os postos de vacinação nas regiões da Asa Sul, Asa Norte, Lago Sul, Vila Planalto, Cruzeiro, Varjão e Lago Norte, que compõem a Região de Saúde Central:
- UBS 1 – Asa Sul
- Endereço: SGAS Quadra 612
- Dia: Quartas-feiras
- Horário: 7h30 às 11h30
- UBS 1 – Asa Norte
- Endereço: SGAN 905
- Dia: Sextas-feiras
- Horário: 7h30 às 11h30
- UBS 2 – Asa Norte
- Endereço: EQN 114/115
- Dia: Quartas-feiras
- Horário: 7h30 às 11h30
- UBS 3 – Asa Norte (Vila Planalto)
- Endereço: Rua Piau – Acampamento Pacheco
- Dia: Terças-feiras
- Horário: 7h30 às 11h30
- UBS 1 – Cruzeiro Novo
- Endereço: SHCES 601, Lote 01
- Dia: Quintas-feiras
- Horário: 7h30 às 11h30
- UBS 2 – Cruzeiro Velho
- Endereço: Setor Escolar, Lote 04
- Dia: Segundas-feiras
- Horário: 7h30 às 11h30
- UBS 1 – Lago Sul
- Endereço: SHIS QI 21 – Área Especial 23, Lote E
- Dia: Quintas-feiras
- Horário: 7h30 às 11h30
- UBS 1 – Lago Norte
- Endereço: QI 3 (ao lado da Igreja Paróquia Nossa Senhora do Lago)
- Dia: Segundas-feiras
- Horário: 7h30 às 11h30
- UBS 1 – Varjão
- Endereço: Quadra 5, Conjunto A, Lote 17
- Dia: Terças-feiras
- Horário: 7h30 às 17h30